BNCC e Educação Física como componente curricular: conceitos, características e desafios.

Abstract

A prática docente do professor é uma tarefa que, além de conhecimentos teóricos sobre a ciência que ensina, requer uma série de conhecimentos didáticos, práticos e uma aventura pelo caminho de incertezas. No entanto, essa aventura deve ser orientada pela reflexão e pelo desejo de aperfeiçoar os procedimentos metodológicos. Embora se reconheça a importância dos saberes docentes como fonte de construção profissional, poucos são os incentivos para a formação continuada dos professores. Paulo Freire (2001, p. 80) deu grande ênfase à formação permanente dos educadores enquanto dirigiu a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (SME-SP) nos anos de 1989-1991: “[...] um dos programas prioritários em que estou profundamente empenhado é o de formação permanente dos educadores, por entender que os educadores necessitam de uma prática político-pedagógica séria e competente que responda à nova fisionomia da escola que se busca construir”. Nessa linha, apresentamos a importância do projeto que desenvolvemos junto aos professores de Educação Física das redes públicas e particulares do estado de Goiás. O objetivo do projeto em questão é oferecer a formação continuada para esses profissionais com a expectativa de contribuir e fomentar as discussões numa perspectiva crítica acerca da BNCC e sua implementação nas redes de ensino, no intuito de buscar uma educação pública de qualidade ao proporcionar este espaço de formação. Esse projeto consistiu em um curso de formação como produto educacional desenvolvido durante o mestrado profissional do PPGEEB/UFG e foi realizado no ano de 2018. Um dos motivos da nossa escolha pelo curso de formação continuada é, justamente, por acreditarmos que, a atenção dada aos professores na sua prática docente é de suma relevância para alcançar a qualidade do trabalho desses profissionais e consequentemente a qualidade do processo de ensino-aprendizagem, isso porque, além de contribuir, para ampliação do conhecimento do professor, abre espaço para este compartilhar suas inquietações, anseios e desafios no fazer pedagógico. Outro motivo que nos impulsionou também, foi por não concordarmos com a ‘cópia’ pura dos ‘desígnios’ determinado pela proposta da Base, entendendo ser de extrema importância ampliar-se os debates e a reflexão sobre conteúdo do documento numa perspectiva crítica e desvelar as interfaces do seu contexto e propósitos. Desse modo almejávamos como resultados: • Aproximar e estabelecer relações entre a universidade e a escola no sentido de contribuir com a formação continuada de professores; • Ampliar o acesso aos conhecimentos sobre a construção e implementação da BNCC; • Oportunizar momentos para uma leitura crítica do contexto de elaboração e implementação da BNCC, para a compreensão além de uma proposta pedagógica; • Promover reflexões em relação ao que foi proposto ao componente curricular Educação Física pela BNCC; • Realizar troca de experiências entre professores de Educação Física das diversas redes de ensino e graduandos do curso de licenciatura. Para materializar essa demanda, oferecemos o curso "A BNCC e a Educação Física como componente curricular: conceitos, características e desafios", com uma carga horária de 40 horas, organizado na modalidade à distância e encontros presenciais. O curso foi ofertado para 40 professores de Educação Física interessados em participar – professores das redes Estadual, Municipal, Federal e Particular de ensino, bem como, os graduandos do curso de licenciatura - a divulgação do curso fazia o convite a todo esse público. Ressaltarmos que, para o projeto inicial de construção do curso, utilizamos a pesquisa de campo a qual nos trouxe elementos necessários para os pontos fundamentais a serem abordados na formação. Através das entrevistas realizadas com professores de Educação Física da rede estadual de ensino, podemos levantar as necessidades que estes apresentavam dentro da sua realidade do cotidiano escolar, frente a implementação da BNCC. Assim, com essa amostra e os dados coletados, podemos elaborar o curso de formação na tentativa de aproximar ao máximo a realidade dos professores no saber docente. Nesse contato, detectamos a inviabilidade de encontros presenciais para a formação continuada, tendo como um dos motivos a falta de horários disponíveis capazes de atender a disponibilidade dos professores, e diante disso, optamos pelo curso semipresencial, dívidas em: modalidade EaD (formação a distância) por meio da plataforma moodle, com uma carga horária de 28h e; 12h presenciais, somando um total de 40h. A escolha do uso de um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) foi por este permitir reunir pessoas em lugares e tempos diversos por meio de tecnologias de informação e comunicação. A propostas metodológica do curso foi estruturada em consonância com o método de ensino da Pedagogia Histórico-Crítica (SAVIANI, 2011) que consiste em cinco momentos: prática social inicial, problematização, instrumentalização, catarse e prática social final. Inspirados na proposta do autor organizamos o curso de formação com uma breve apresentação dos objetivos e método do curso, ressaltando a importância da formação continuada. O primeiro momento – prática social inicial – consistiu no levantamento do conhecimento sobre a BNCC. Nesse momento, por meio de uma explanação das tensões e polêmicas em torno da elaboração/aprovação/implementação do documento, tentamos ampliar as problematizações para o próximo momento. No segundo momento – problematização – foram apresentados alguns questionamentos com o objetivo de despertar os professores para a reflexão sobre os propósitos da construção da Base, o contexto em que se deu essa elaboração e as mudanças no cenário político durante esse processo. Esse momento tencionava problematizar os pontos apresentados na proposta, ouvir as concepções dos professores sobre as questões, fazer um levantamento prévio das dificuldades enfrentadas na prática pedagógica e perceber suas expectativas e demandas. Além disso, teve como finalidade instigá-los para o estudo das possíveis questões levantadas ao longo da discussão. No terceiro momento – instrumentalização – foram propostos leituras e estudo de referências que viriam a contribuir com o entendimento das questões levantadas no momento anterior e no fórum de discussão. Apresentamos os postulados teóricos de estudiosos que discutem as questões e, além disso, trouxemos alguns vídeos com as discussões travadas, desde a construção até a aprovação do documento. Posteriormente, abordamos especificamente a Educação Física na BNCC, levantando as influências que ela teve na construção do seu conteúdo; para isso, identificamos os especialistas que estiveram presentes no processo de elaboração, bem como apresentamos algumas de suas produções. Finalizamos com o estudo específico dos eixos temáticos tratados pelo documento e concluímos essa etapa com um seminário. Nos dois últimos momentos (quarto e quinto) – catarse e prática social final – propomos aos professores que compartilhassem suas impressões e questionamentos, tentando estabelecer relações entre o que foi estudado no decorrer do curso. A partir da reflexão das questões abordadas anteriormente, deveriam elaborar estratégias didático-metodológicas de acordo com a realidade em que atuam para desenvolver com seus alunos. Essas práticas seriam compartilhadas através de relatos de experiências, vídeos, fotos, planos de aula, entre outros. Os encontros pelo AVA caracterizavam pela apresentação de documentos da BNCC, textos de fundamentação teórica, fórum de discussão, espaço para tirar as dúvidas e momentos de compartilhar experiências. Os encontros presenciais aconteciam no prédio do Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae/UFG), em dias e horários previamente marcados. Para a organização do AVA, utilizamos a plataforma Moodle/UFG, espaço que nos possibilitou disponibilizar os materiais para estudo, desenvolver as atividades, interagir com os participantes por meio dos fóruns, postar vídeos e avaliar as participações. Cabe reforçar que o Moodle é considerado um espaço formal de educação. No que diz respeito às ações no AVA, os conteúdos foram organizados em seis módulos, cada qual com propostas de leituras e atividades diferentes. Podemos afirmar que a modalidade EAD se configurou como a mais adequada para a realidade desses professores. Ela favoreceu a proposta pensada para a formação, uma vez que permitiu interações presenciais, que instrumentalizaram e encorajaram o uso da plataforma moodle e ampliaram o tempo para os professores desenvolverem os estudos, sem dependerem apenas dos encontros presenciais. A socialização foi facilitada pelos fóruns de discussão e pelo compartilhar de conhecimentos e práticas, que potencializaram os objetivos do curso de formação. O curso encontra-se disponível em https://pesquisaextensao.ead.ufg.br/.