POVOS INDÍGENAS DE RORAIMA NA DITADURA CIVIL-MILITAR (1964-1985) À LUZ DA COMISSÃO NACIONAL DA VERDADE: CONSIDERAÇÕES SOBRE POSSIBILIDADES E DESAFIOS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA

Abstract

Passados 60 anos do golpe civil-militar (1964) que soterrou a democracia brasileira e impôs uma ditadura que perdurou por 21 anos, observa-se que a sociedade nacional permanece em constantes lutas e embates ideológicos, sociais e políticos, parte dela em defesa do Estado Democrático de Direito, outra parte inclinada à (e até mesmo reivindicando a) volta da ditadura, o que constitui um dos grandes desafios do País. Essa latência em torno da ditadura não se restringe às forças progressistas ou conservadoras do campo sociopolítico e ideológico: no debate acadêmico também se presenciam discussões acerca dos ecos e resquícios da ditadura; alguns, ainda, chegam apontar que a ditadura nunca acabou. Já no âmbito da educação básica pública brasileira, onde o livro didático continua a se configurar na ferramenta hegemônica de apoio para o ensino escolar de História, a abordagem da história da ditadura precisa mudar, considerando que muitas vezes se confunde com a transmissão e reprodução do mesmo discurso ufanista dos generais ditadores que assumiram a presidência da República de 1964 a 1985: o relato dos seus “feitos” políticos e econômicos silencia outras histórias, por exemplo as dos indígenas, das mulheres, dos negros e quilombos ou dos trabalhadores do campo, mesmo 60 anos depois. Transgredindo tal abordagem do livro didático, a presente pesquisa tem como objetivo evidenciar a participação dos povos indígenas de Roraima nos eventos da ditadura civil-militar, à luz da Comissão Nacional da Verdade (CNV), visando apresentar subsídios de possibilidades e desafios desse tema como recurso didático de ensino de História para o 9o ano do ensino fundamental. A pesquisa justifica-se por três razões: primeiro, pelos inúmeros relatos de professores e professoras que revelam as dificuldades e os receios de tratar sobre a ditadura em sala de aula, em função dos discursos negacionistas. Segundo, pelos estudos das dissertações do PROFHISTÓRIA que identificaram que o ensino de História sobre a ditadura civil-militar não está entre os temas mais discutidos pelos/as mestrandos/a. A terceira razão manifesta-se na pouca visibilidade sobre a ditadura na Amazônia, sobretudo a violência sobre a qual o regime se construiu, especialmente contra os povos indígenas. A metodologia utilizada foi bibliográfica e documental. O problema que suscitou a pesquisa foi: como reverter a baixa visibilidade do ensino da história dos povos indígenas de Roraima na ditadura civil-militar, a partir de recursos ou fontes que ultrapassem o livro didático? Desse modo, o objetivo final da pesquisa foi produzir um esboço de sequência didática abordando a temática, quee pode ser aplicada no 9o ano do ensino fundamental, contribuindo para a visibilidade do assunto e atendendo à Lei Federal 11.645/2008. Para tanto, as fontes que embasam a pesquisa e a sequência didática são os relatórios da Comissão Nacional da Verdade referentes aos povos indígenas.