CURSO DE ENSINO DE HABILIDADES SOCIAIS POR MEIO DE DINÂMICA DE GRUPO

Abstract

As habilidades sociais desempenham um papel fundamental no desenvolvimento humano, especialmente no contexto das interações interpessoais e da adaptação social. De acordo com Del Prette e Del Prette (2017), essas habilidades correspondem a um conjunto de comportamentos aprendidos que favorecem a comunicação eficaz, a resolução de conflitos, a cooperação e a manutenção de relacionamentos saudáveis. No âmbito profissional, as habilidades sociais constituem um dos pilares para o bom desempenho do trabalhador, sobretudo para aqueles que atuam em equipe e lidam com o público. Ao propiciar o desenvolvimento de competências como empatia, assertividade e trabalho em equipe, essas habilidades contribuem para um ambiente ocupacional mais colaborativo e saudável, promovendo o desenvolvimento individual e coletivo. Os estudos e práticas sobre habilidades sociais tiveram sua origem na psicologia clínica e do trabalho. No entanto, é possível desenvolver estratégias baseadas no treinamento dessas habilidades em diversas áreas, como educação e saúde (Del Prette & Del Prette, 2006). Os conjuntos de habilidades sociais de maior relevância podem ser organizados em classes e subclasses, sendo as principais as litadas no quadro 1. Quadro 1. Classes e subclasses das principais habilidades sociais. Habilidades Sociais Classes Subclasses Comunicação Fazer e responder perguntas; Dar e pedir feedback; Iniciar, manter e encerrar conversa; Expressar-se de forma clara e assertiva; Demonstrar empatia e escuta ativa; Elogiar. Civilidade Respeitar normas sociais e diferenças culturais; Cumprimentar, pedir desculpas; Dizer por favor, agradecer, apresentar-se. Expressão de Sentimentos Expressar sentimentos positivos; Expressar sentimentos negativos. Assertividade Fazer críticas e aceitar críticas construtivas; Defender os próprios direitos sem prejudicar 9 os outros; Discordar e recusar pedidos de forma respeitosa. Profissional ou de Trabalho Compreender e compartilhar responsabilidades; Resolver conflitos e mediar situações. Educativas Encorajar e motivar os outros; Reforçar comportamentos positivos. Enfrentamento e Resolução de Problemas Identificar e lidar com problemas interpessoais; Tomar decisões e negociar acordos. Liderança Inspirar, delegar e coordenar equipes; Promover um clima de cooperação. Fonte: adaptado de Del Prette e Del Prette (1999, 2001). O desenvolvimento de habilidades sociais é um elemento crucial para o exercício profissional dos trabalhadores da saúde. A prática contemporânea nessa área exige não apenas competência técnica, mas também uma interação compassiva e ética com pacientes e colegas. A comunicação clara e empática é central para estabelecer relações de confiança, facilitar diagnósticos precisos e promover tratamentos eficazes (QUEIROZ & ALEXANDRE, 2018). No entanto, um desafio recorrente é a implementação efetiva dessas habilidades. No contexto da enfermagem, as habilidades sociais desempenham um papel essencial, influenciando diretamente a qualidade da assistência prestada e do ambiente de trabalho. O ambiente hospitalar e de cuidados em saúde demandam interação constante com pacientes, familiares e equipes multidisciplinares, tornando a comunicação e a empatia aspectos fundamentais para a prática profissional (SILVA & SOUZA, 2021). A comunicação eficaz é considerada uma das habilidades mais relevantes na enfermagem, pois permite a troca clara de informações entre profissionais e pacientes, reduzindo erros e melhorando a qualidade do cuidado prestado (OLIVEIRA et al., 2020). Além disso, a empatia se destaca como essencial, uma vez que possibilita compreender as necessidades emocionais dos pacientes, promovendo um atendimento humanizado e acolhedor (MARTINS & CARVALHO, 2019). A assertividade mostra-se tambémcomo uma competência crucial para enfermeiros, pois lhes permite expressar opiniões e preocupações de maneira 10 clara e respeitosa, facilitando a resolução de conflitos dentro da equipe de saúde (SANTOS et al., 2022). O trabalho em equipe, por sua vez, é imprescindível na enfermagem, garantindo uma abordagem colaborativa e multidisciplinar no cuidado ao paciente (FERREIRA & ALMEIDA, 2020). A liderança é outra habilidade relevante, especialmente para enfermeiros que ocupam cargos de gestão ou supervisão. Um enfermeiro líder é capaz de motivar sua equipe, gerenciar recursos e tomar decisões assertivas em momentos críticos (RODRIGUES et al., 2021). A resiliência emocional também merece destaque, pois auxilia os profissionais a lidarem com situações estressantes e emocionalmente desafiadoras, comuns na prática da enfermagem (COSTA & LIMA, 2018). Diante da importância das habilidades sociais na qualidade da assistência em enfermagem, estudos indicam que treinamentos específicos melhoram a comunicação entre profissionais, aumentam a segurança do paciente e reduzem erros assistenciais (OLIVEIRA et al., 2021). A capacidade de resolução de problemas e o manejo de conflitos são indispensáveis para enfrentar desafios diários na área da saúde. A rápida identificação de problemas e a implementação de soluções eficazes contribuem para um ambiente de trabalho mais organizado e seguro (PEREIRA & ANDRADE, 2017). Entre as abordagens sugeridas para o ensino de habilidades sociais, destacam-se o uso de simulação de cenários clínicos, role-playing e feedback estruturado (SILVA et al., 2020). Essas estratégias permitem que os trabalhadores de enfermagem desenvolvam suas habilidades de maneira prática e aplicada ao contexto real de trabalho. O ensino dessas competências é fundamental para a melhoria dos processos de trabalho e para a segurança do paciente (OLIVEIRA et al., 2021). Embora sejam essenciais, ainda há uma lacuna nas abordagens de ensino que promovam o desenvolvimento dessas competências. Nesse contexto, intervenções psicossociais, como as Oficinas em Dinâmica de Grupo, podem ser ferramentas eficazes para a proteção da saúde mental dos trabalhadores. Essas oficinas proporcionam um espaço para a construção coletiva do conhecimento e troca de experiências, fortalecendo a resiliência dos participantes (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DINÂMICA DOS GRUPOS, 2006). 11 O conceito de dinâmica de grupo refere-se ao estudo das interações e forças que influenciam o comportamento dos grupos (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DINÂMICA DOS GRUPOS, 2006, P. 1). As Oficinas em Dinâmica de Grupo ocorrem em encontros estruturados, reunindo pessoas com objetivos comuns para compartilhar experiências e discutir questões centrais em um ambiente planejado e flexível, embasado em teorias e técnicas de grupo (AFONSO, 2002, 2003). O termo "dinâmica de grupo" foi cunhado em 1944 pelo teórico Kurt Lewin, cuja contribuição foi essencial para a compreensão da liderança, comunicação e estrutura dos grupos. Lewin (1973) desenvolveu a teoria do campo, segundo a qual o comportamento do indivíduo só pode ser compreendido dentro de seu contexto atual, incluindo fatores internos e externos. Desde a década de 1970, a dinâmica de grupo tem sido utilizada no Brasil como estratégia de ensino e aprendizagem, sendo publicados os primeiros artigos nacionais sobre o tema nesse período (ABADE, 2005). As técnicas de dinâmica de grupo podem ser aplicadas em contextos diversos, como seleção, treinamento e desenvolvimento, sensibilização, levantamento de necessidades e autoconhecimento (STOFFER, 2023). De acordo com Kolb (1990), a aprendizagem experiencial fornece um referencial para a análise da interação entre educação, trabalho e desenvolvimento pessoal. Assim, quando aplicada com propósitos educativos, a dinâmica de grupo configura-se como uma prática essencialmente formativa, favorecendo a aplicação do conhecimento adquirido em contextos individuais e coletivos (TORRES, 2023). Os profissionais de enfermagem que atuam em ambientes hospitalares desempenham uma gama diversificada de funções, incluindo a monitoração clínica, administração de medicamentos, realização de procedimentos técnicos e dispensar cuidado integral aos pacientes. Estes profissionais estão frequentemente envolvidos no manejo de condições agudas e crônicas, além de desempenharem papel crucial na comunicação entre a equipe multidisciplinar. Os principais desafios enfrentados nesse contexto incluem a alta carga de trabalho, jornadas prolongadas, exposição a riscos biológicos e físicos, além da escassez de recursos materiais e humanos. A pressão por resultados rápidos, a complexidade dos casos atendidos e as demandas emocionais relacionadas ao cuidado de 12 pacientes graves ou terminalmente enfermos também são fatores que impactam a qualidade do trabalho e a saúde mental dos profissionais. Segundo Barros et al. (2022), esses fatores contribuem significativamente para o aumento dos níveis de estresse ocupacional, burnout e afastamentos por questões psicossociais entre os profissionais de enfermagem, especialmente em unidades de alta complexidade. A pandemia de COVID-19 representou um grande desafio para a saúde pública global, sendo causada pelo vírus SARS-CoV-2 e resultando em impactos negativos significativos na saúde mental da população mundial (TORALES et al., 2020). Os profissionais da saúde que atuaram nesses serviços estiveram expostos a altos riscos de contágio e adoecimento, além de enfrentarem dificuldades relacionadas às condições de trabalho. Esses fatores afetaram sua segurança, saúde física e mental, podendo levar à insatisfação no emprego e até mesmo ao desejo de abandonar a profissão (SAID; EL-SHAFEI, 2021). Além disso, o contexto de trabalho foi permeado por desafios emocionais, evidenciando a fragilidade humana e sentimentos como medo, insegurança e angústia (HUMEREZ; OHL; SILVA, 2020; TAVARES, 2020). Diante desse cenário, diversos sintomas e reações psicológicas afetaram a saúde mental dos profissionais de saúde, tornando essencial a adoção de medidas preventivas e de apoio (WALTON; MURRAY; CHRISTIAN, 2020). Nesse A implementação de estratégias individuais e coletivas tornam-se essenciais para garantir o bem-estar e a manutenção dos relacionamentos interpessoais durante e após a pandemia. Dentre essas estratégias, destaca-se a importância do apoio social e do desenvolvimento de habilidades sociais, que incluem comunicação, civilidade, empatia, assertividade, solidariedade e resolução de problemas interpessoais. Profissionais com maior desenvolvimento dessas habilidades tendem a ter um melhor controle emocional e menor vulnerabilidade ao adoecimento psicológico (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2013). Diante do exposto, são incipientes as pesquisas com propostas de ensino de habilidades sociais para profissionais de saúde, para promover a saúde mental dessas pessoas. Esse estudo fornecerá subsídios para que os gestores implementem estratégias de promoção de saúde mental e bem-estar desses 13 profissionais, produzindo um ambiente favorável e de incentivo ao engajamento dos trabalhadores de enfermagem para prestar uma assistência de qualidade. O objetivo deste estudo foi: Desenvolver, implementar e avaliar um curso pautado na dinâmica de grupo para o ensino de habilidades sociais para trabalhadores de enfermagem.