AVALIAÇÃO POR PARES NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA

Abstract

A avaliação é um ato intrínseco do ser humano, haja vista que estamos constantemente analisando e, em determinados casos, julgando ações, situações, nos autoavaliando, etc. No contexto educacional não é diferente, pois ela é uma componente impescindível dos processos de ensino e de aprendizagem, e mesmo assim, tem sido pouco abordada e explorada em cursos de formação de professores (Luckesi, 2018). Esta situação tem gerado lacunas cada vez mais profundas na prática docente, isto por conta da falta de conhecimento dos professores, quanto aos diferentes conceitos, planejamentos, procedimentos e tomadas de decisões inerentes ao ato avaliativo, gerando consequências negativas aos estudantes e trazendo prejuízos à sua relação com os saberes específicos das diferentes áreas do conhecimento. A avaliação para a aprendizagem vai muito além da simples atribuição de nota a algo falado ou escrito pelos alunos, pois ela não se restringe a classificar um indivíduo por meio de erros e acertos, quantificando-o numericamente, ou seja, estabelecendo um juízo de valor superficial para o sujeito/objeto valorado. Luckesi (2018) esclarece que estamos corriqueiramente avaliando tudo à nossa volta: roupas, culturas, pensamentos, comidas, pessoas, etc. Estamos constantemente valorando, de acordo com o contexto em que vivemos, muitas vezes julgando como se o nosso contexto fosse o único e verossímil. E essa realidade é evidente e intrínseca à função dos professores. Estas avaliações se dão também no contexto escolar; entretanto, como já citamos das tais lacunas que temos quanto a este tema, não é difícil notar equívocos quanto às formas de avaliar, aos procedimentos e à atribuição do tal juízo de valor/nota (que é estudado pela Axiologia) por muitos profissionais (Ruiz, 1996). Por conta destas lacunas, muitos pesquisadores, como Sordi e Ludke (2009) e Villas Boas e Soares (2016) defendem a ideia da oferta de disciplinas e cursos de especialização em avaliação para a aprendizagem, ainda na formação inicial, devido à sua relevância em todo o processo educativo. Tendo esta problemática como ponto de partida para algumas pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Ensino (PPGEN), da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), a saber, Batista (2022), Manoel 9 (2021) e Hypólito (2019), consideramos a conexão entre as temáticas “avaliação” e “Axiologia”, uma vez que não há como atribuir uma qualidade (positiva ou negativa) a algo ou alguém, sem ter critérios estabelecidos para isso, explícita ou implicitamente. Assim, considerando nossa própria condição formativa, enquanto professores de Biologia, entendemos que seria necessário dar continuidade às investigações sobre essas temáticas (avaliação e Axiologia), ponderando sua urgência na formação inicial de professores, nosso contexto de pesquisa. E, partindo deste pressuposto, consideramos a possibilidade de desenvolver e ofertar um curso, como Produto Educacional, para a formação inicial de professores de Ciências e Biologia, sobre a avaliação para a aprendizagem, na perspectiva axiológica. Nosso intuito não se limitou a trazer conceitos básicos sobre ambas as temáticas, mas desmistificar determinados pensamentos que podem tornar o processo avaliativo deletério para os alunos e para os professores, o que vai muito além de somente verificar aquilo que o estudante compreendeu da matéria; também esteve (nosso intuito) diretamente ligado às metodologias empregadas pelo professor em sala de aula, e é a partir disto que nossa pesquisa incentiva os futuros docentes a buscarem novas abordagens avaliativas. Nesse sentindo, realizamos um mapeamento sistemático em artigos, dissertações, capítulos de livros, teses e produtos educacionais relacionados aos nossos temas (avaliação para a aprendizagem e Axiologia). Nesse processo, reconhecemos que o procedimento “Avaliação pelos Pares”, pouco difundido entre docentes, poderia ser um exemplar temático adequado e possível de ser trabalhado em nossa proposta formativa, considerando o arcabouço teórico de nossa pesquisa de mestrado. Quanto às dimensões dos valores em nossa pesquisa, recorremos a Lucas (2014), sobretudo no que diz respeito à Axiologia Relacional Pedagógica (ARP), uma vez que toda ação educativa está impregnada de conteúdo axiológico, ou seja, valores e desvalores. Tendo ciência disto, a ARP traz três elementos importantes do contexto avaliativo da sala de aula (não sendo os únicos): ● O professor – sujeito que valora; ● As respostas dadas pelos alunos – objetos valorados; ● As expectativas expressas, em forma de qualificação (conceito, nota, etc.) – juízos de valor. 10 Assim, propusemos a seguinte questão de pesquisa, em nossa dissertação de mestrado: De que modo uma intervenção formativa, pautada em estudos axiológicos articulados ao procedimento “avaliação por pares”, pode contribuir para a construção de valores relacionais sobre a avaliação para a aprendizagem, no âmbito da formação inicial de professores de Biologia? O objetivo geral de nosso itinerário investigativo consistiu em promover a formação de licenciandos em Ciências Biológicas, no que diz respeito à avaliação para a aprendizagem, por meio de uma experiência formativa pautada no procedimento de avaliação por pares e em estudos axiológicos, a fim de evidenciar valores relacionais derivados desse processo. Além disto, trouxemos como um dos objetivos específicos a organização e a implementação de um curso de formação profissional, sobre avaliação por pares na perspectiva axiológica, com foco no ensino de Ciências e Biologia. É justamente este curso que você, leitor, encontrará organizado neste Produto Educacional. A seguir, oferecemos uma síntese dos aportes teóricos que fundamentaram nossa pesquisa, a fim de oferecer subsídios para a compreensão do curso proposto.