“PREPARE SEU CORAÇÃO PRAS COISAS QUE EU VOU CONTAR...”: NARRATIVAS DE ESTUDANTES DO CAMPO SOBRE SUAS EXPERIÊNCIAS ESCOLARES E DILEMAS NA CONSTRUÇÃO DA CONSCIÊNCIA HISTÓRICA

Abstract

Essa dissertação investiga como o ensino de História pode contribuir para o desenvolvimento da consciência histórica dos estudantes que moram no campo e estudam no Colégio Estadual Santa Bernadete (CESB), em Amargosa-BA. A pesquisa adota a metodologia de pesquisa-ação, realizando entrevistas semiestruturadas e oficinas temáticas com 12 estudantes colaboradores, que participaram voluntariamente. Esses estudantes, moradores de áreas rurais do município de Amargosa e filhos e netos de agricultores, enfrentam desafios cotidianos de deslocamento, preconceitos e falta de políticas públicas que garantam equidade de direitos, para estudar em uma escola urbana. O estudo fundamenta-se nas concepções de Jörn Rüsen sobre consciência histórica, destacando a importância da interpretação crítica do passado para a formação da identidade e ação social dos sujeitos. Ao utilizar oficinas temáticas e a produção de podcasts como ferramentas pedagógicas, a pesquisa buscou engajar os estudantes ativamente no processo de ensino-aprendizagem. Essas atividades permitiram que eles discutissem suas vivências, refletissem sobre as implicações históricas que impactam suas vidas e desenvolvessem suas consciências históricas. A dissertação está estruturada em três capítulos que abordam, respectivamente, as bases teóricas e contextuais da pesquisa, os desafios enfrentados pelos estudantes do campo no ambiente escolar e a metodologia aplicada. O primeiro capítulo contextualiza a pesquisa ao apresentar o perfil dos estudantes colaboradores, discutir as motivações do pesquisador e a necessidade de um ensino de História que valorize as experiências dos alunos do campo. O segundo capítulo analisa a invisibilidade dos estudantes do campo no Projeto Político Pedagógico (PPP) do CESB e a necessidade de reformulação das práticas pedagógicas para promover uma educação inclusiva para esses estudantes. O terceiro capítulo detalha a metodologia qualitativa utilizada, incluindo entrevistas, oficinas e a produção de podcasts, evidenciando o potencial da proposta pedagógica para o desenvolvimento da consciência histórica dos estudantes. Os resultados indicam que, ao serem envolvidos na criação de conteúdos históricos que dialogam com suas realidades, os estudantes do campo passaram a se ver como agentes ativos de suas histórias, o que potencializou seu engajamento e empoderamento. No entanto, a pesquisa também ressalta os desafios de implementar essa metodologia em um contexto de ensino convencional, marcado por grandes turmas e carga horária reduzida pela proposta do Novo Ensino Médio. Como proposta futura, sugere-se a apresentação dos resultados na Jornada Pedagógica de 2025 do CESB, com o objetivo de colaborar na construção de um PPP que promova uma educação verdadeiramente inclusiva e democrática, valorizando as múltiplas identidades e experiências dos estudantes. A pesquisa reafirma o papel do ensino de História na formação das consciências históricas, especialmente para os estudantes do campo que enfrentam desafios de equidade e reconhecimento em contextos educacionais urbanocêntricos.