Furacão tornado

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MetadadosDescriçãoIdioma
Autor(es): dc.contributorOrthof, Geraldo-
Autor(es): dc.creatorMiranda, Letícia dos Santos-
Data de aceite: dc.date.accessioned2024-10-23T15:16:48Z-
Data de disponibilização: dc.date.available2024-10-23T15:16:48Z-
Data de envio: dc.date.issued2023-04-11-
Data de envio: dc.date.issued2023-04-11-
Data de envio: dc.date.issued2023-04-11-
Data de envio: dc.date.issued2022-10-25-
Fonte completa do material: dc.identifierhttp://repositorio2.unb.br/jspui/handle/10482/45796-
Fonte: dc.identifier.urihttp://educapes.capes.gov.br/handle/capes/879089-
Descrição: dc.descriptionDissertação (mestrado) — Universidade de Brasília, Instituto de Artes, Departamento de Artes, Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, Brasília, 2022.-
Descrição: dc.descriptionVozinhas, Como são caros os dias sem os sorrisos. Como seria bom ver sorrir os dias com vocês do lado. Só me resta acenar, mandar um beijo que colei na palma da mão e montar cenas nunca vistas - dedico a vocês todas elas. Não sei a cadência de suas vozes, mas sigo sussurrando seus nomes e contando nossas semelhanças. Assim anuncio a presença de suas vidas na minha. Avisto nossos medos e receios. Por aí vou caducando a vida como quem arrisca o que não tem (só assim vejo quem somos e fomos e ainda seremos). Daqui parto. Tomo um barco feito por minhas mãos. No risco, na rasura e no ato incessante de lançar um olhar ao mundo, cato o que vejo. Digo, no presente, as minhas ações. Nesse dizer me lanço. É impossível levar um barco sem temporais, como bem diz Jards Macalé. Vozinhas, vocês não me escutam e, agora, pensando bem, pareço delirar falando no presente um presente que não chega. O meu presente está contaminado com o passado de suas vidas. Cotidianamente me contamino com o farfalhar das noites. São tantas histórias desconhecidas e tantos rostos esquecidos… começo daqui. Partir para a coleta. Partir do infinitivo. Invento tudo que não conheço e que hoje não consigo conhecer. Essa invenção só é possível porque coleto. A partir dos objetos, das imagens, dos sons, das fibras que sobram, vou montando um compilado de pequenas relíquias do presente - esse tempo existe, e é por isso que coleto e monto e dedilho as materialidades de hoje. Coleto porque vocês se foram. Cato cada história enviesada e mal contada. Cato toda e qualquer meia verdade cheia de fantasias. Cavo, cato, recolho. Danielle Magalhães, amiga preciosa e poeta que leio com desejo de vida, escreveu certa vez: a história é feita/de interrupções/ nada se começa/ ou se termina/ o fim tá dado/ todos os dias/ o que resta/ é começar. Fingir que se começa é um começo. Quando penso em vocês, vejo um fio se desenrolar. Enxergo minhas manias e minhas obsessões - colecionei pedrinhas, pintei pedrinhas, vendi pedrinhas na escola. Há algum tipo de firmeza que envolve meu nome. Uma firmeza que se tenta alegre. Mamãe sempre me diz que escolheu o meu nome por causa do significado. Qual o peso de um nome, vó? Queria que pudesse me responder. Fumaça e negrume. Essa é a nossa história. E eu a celebro. Nessa alegria difícil. Catar é uma alegria difícil. Catando encontrei as linhas, os papéis, o furacão e o fundo do mar. Catando encontrei as membranas, as estátuas, os sustos, o número, as voltas de barco. Catando avistei sonhos, nomes, nomenclaturas e nervuras. Catar é uma alegria difícil. Vozinhas, inventar é um modo de ver. A partir dessa ótica, tento vê-las. Nosso encontro impossível é só uma parte desse filtro. Com vocês aprendi a ser escavadorainvestigadora-curiosa. Alarguei meus dedos e meus ouvidos. Entre palavras e imagens, construo minha presença escorregadia e impregnada de ontem, hoje e amanhã - ali sou, mas nunca inteira, não me interessa a completude; vou aos fragmentos porque a escassez me alimenta. Entendi que vejo poucas cenas (todas elas a partir de uma fresta). Entendi que pouco vejo e pouco sei. E isso é suficiente. O pouco. Fico quieta, quase emudecida, diante do que alcanço. Os encantos são assombros (chegam todos pelas rachaduras). Ver é encontrar o turvo. Li um poema da Simone Homem de Mello que dizia assim: Das catedrais em ogivas talvez/ só mesmo alguma luz vitral:/ pois cada rosto a réstia do sol/ a perfurar o turvo da nuvem,/ e a escrita, ela,/ e quem dela dizia/ se inscrevia em seu dizer. Vejo feixes de luz que cortam meu caminho. O que é (ou quem é) a escrita pra mim? Os traços inscritos em mim. Talvez seja isso - palavra e imagem são partes de uma mesma camada. Vozinhas, traço caminhos com ajuda das mãos. O gesto me ensinou a andar por essas terras estranhas. Eu vou gritar o nome de vocês, mas vocês não virão. É só um gesto. É só uma voz com saudade. E então, só mais algumas voltas ao redor do Sol, só mais algumas miragens, imagens, palavras, versos e páginas... O futuro é lá atrás. Com amor, Letícia-
Descrição: dc.descriptionInstituto de Artes (IdA)-
Descrição: dc.descriptionPrograma de Pós-Graduação em Artes Visuais-
Formato: dc.formatapplication/pdf-
Direitos: dc.rightsAcesso Aberto-
Palavras-chave: dc.subjectNarrativa-
Palavras-chave: dc.subjectLivro-
Palavras-chave: dc.subjectLivro de artista-
Título: dc.titleFuracão tornado-
Tipo de arquivo: dc.typelivro digital-
Aparece nas coleções:Repositório Institucional – UNB

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