RAZÃO E PROPORÇÃO ATRAVÉS DE RECEITAS DE FAMÍLIA: Uma proposta de sequência didática

Abstract

A escola, na sociedade atual, é um local de estudo e socialização. É no ambiente escolar que a maior parte das crianças e dos adolescentes interage com seus pares, de idade semelhante, e, normalmente, com níveis de desenvolvimento e aprendizagem semelhantes. Ao mesmo tempo, cada indivíduo se percebe único, pois nessa convivência surgem as diferenças de ideias, realidades e percepções. Por essa característica social da escola, é coerente que sejam propostas aos alunos atividades que possibilitem esse desenvolvimento conjunto, que proponham a interação entre os envolvidos, evitando a ideia tradicional do professor como transmissor do conhecimento e o aluno apenas como receptor. Essa concepção já não faz sentido na sociedade atual e não traz benefícios aos estudantes. Em seus experimentos, realizados no início do século XX, Vigotski já investigava como a interação entre a criança e o adulto e entre as crianças colaborava para o desenvolvimento do indivíduo. Os adultos, nesse estágio, são agentes externos servindo de mediadores do contato da criança com o mundo. Mas à medida que as crianças crescem, os processos que eram inicialmente partilhados com os adultos acabam por ser executados dentro das próprias crianças. Isto é, as respostas mediadoras ao mundo transformam-se em um processo interpsíquico. É através desta interiorização dos meios de operação das informações, meios estes historicamente determinados e culturalmente organizados, que a natureza social das pessoas tornou-se igualmente sua natureza psicológica. (Vigotski; Luria; Leontiev, 2020, p.27) Assim, mesmo que nos primeiros anos de vida os principais mediadores entre a criança e o mundo sejam os adultos, a partir da vida escolar, as crianças tornam-se também mediadoras para o seu aprendizado e de seus pares, e esse processo continua na adolescência. Segundo Rego (2012), na perspectiva de Vigotski, a escola desempenha um papel importante no desenvolvimento das funções psicológicas superiores dos indivíduos: (...) o ensino escolar desempenha um papel importante na formação dos conceitos de um modo geral e dos científicos em particular. A escola propicia às crianças um conhecimento sistemático sobre aspectos que não estão associados ao seu campo de visão ou vivência direta (como no caso dos conceitos espontâneos). Possibilita que o indivíduo tenha acesso ao conhecimento científico construído e acumulado pela humanidade. Por envolver operações que exigem consciência e controle deliberado, permite ainda que as crianças se conscientizem dos seus próprios processos mentais (processo metacognitivo). (Rego, 2012, p. 57-58) De fato, durante e após a pandemia do covid-19, entre 2020 e 2022, quando os alunos precisaram realizar a maior parte de suas tarefas sozinhos e a interação foi mínima quando comparada a interação que existe nas aulas presenciais, percebemos o prejuízo cognitivo gerado nas crianças e adolescentes (Phillipps, 2022). Mesmo que esse prejuízo possa ter sido gerado por diversos fatores, como a dificuldade no acesso à internet e sobrecarga das famílias com trabalho remoto, nossa experiência – que se assemelha às experiências relatadas por colegas de profissão – aponta que a falta de interação aluno-aluno e professor-aluno foi um dos fatores principais. O Referencial Curricular Gaúcho afirma que “A aprendizagem se intensifica por meio da participação, mediação e interatividade” (Rio Grande do Sul, 2018, p.22). Essa interatividade caracteriza-se pelo diálogo, problematização e produção própria dos estudantes, sendo o professor um mediador e coautor que fomenta a criatividade no processo de aprendizagem. Sobre a Matemática, o Referencial traz também que Considerando o papel instrumental da matemática, é importante salientar que a contextualização matemática transposta da vida cotidiana para as situações de aprendizagem, resulta na elaboração de saberes intermediários, permitindo ao estudante maiores possibilidades de compreender os motivos pelos quais estuda um determinado conteúdo, dando significado a estes. Desta forma, a contextualização pode ser considerada um dos meios para desenvolver a capacidade de argumentação e conexão de ideias (...). (idem, p. 48-49) Nessa perspectiva, a contextualização dos conteúdos estudados na escola possibilita sua compreensão dentro do contexto histórico, social e cultural. Essa contextualização também colabora para desmistificar a Matemática como uma disciplina “difícil”, que só alguns são capazes de compreender. Assim, buscando colaborar para a melhora do aprendizado de Matemática, este produto educacional apresenta uma sequência didática que propõe o ensino contextualizado dos conteúdos de Razão e Proporção no 7º ano do Ensino Fundamental, proporcionando uma experiência de aprendizagem que privilegia a interação entre os alunos e parte de receitas de família fornecidas pelos próprios alunos. Os participantes da pesquisa escolheram como tema de interesse a “Matemática na Culinária”, por isso, foram escolhidos esses conteúdos e as receitas de família para compor as atividades da sequência didática.