Juventudes rurais e o ensino de sociologia: uma análise da recontextualização pedagógica numa comunidade rural

Abstract

Este trabalho, na modalidade de dissertação, tem como foco de estudo e análise os processos didáticos que envolvem a Transposição Didática e a Recontextualização Pedagógica no ensino médio rural. O estudo foi realizado na Escola de Ensino Médio (EEM) Raimundo Adjacir Cidrão de Oliveira (RACO), situada numa comunidade rural do município de Tauá-Ce. Considerou-se o cenário atual da Sociologia no contexto escolar, e este como espaço de disputas de diferentes projetos de sociedade, bem como as juventudes rurais como ênfase na prática docente. Desse modo, teve-se como objetivo geral analisar o tratamento didático à luz das Teorias da Transposição Didática e da Recontextualização Pedagógica no cenário rural, considerando questões que envolvem a didática, o currículo e os sujeitos. As finalidades específicas deste trabalho são: compreender os processos pedagógicos que envolvem o sistema didático e de Recontextualização Pedagógica, respectivamente, correspondentes às teorias de Chevallard (1991) e Bernstein (1996; 1998; 1999) para o ensino de Sociologia; refletir sobre o cenário atual marcado por constantes ataques à educação a partir de reformas, projetos e políticas de avaliações externas que não contemplam o ensino das Ciências Humanas, pois atendem à lógica do capital; e, por último, caracterizar os jovens rurais a partir de experiências sociais que repercutem no “chão da escola” e nos seus projetos de vida. A pesquisa qualitativa e de campo permitiu analisar diversos fenômenos que exigiram uma investigação ativa e de imersão no campo, que, apesar de familiar, não era conhecido no seu todo. A condição de professor-pesquisador, no cargo de coordenador escolar, reforçou a necessidade de utilizar técnicas que ampliassem a investigação em campo entre maio de 2019 e março de 2020. A análise documental das Orientações Curriculares Nacionais para o ensino médio (OCNEM), da Lei n.o 11.684/2008, sobre a obrigatoriedade do ensino de Sociologia, e da Lei n.o 13.415/2017, do Novo Ensino Médio embasaram os aspectos legais e o Projeto Político-Pedagógico que contribuiu para a compreensão em torno dos aspectos pedagógicos envolvidos na pesquisa. Concluiu-se que o professor de Sociologia é sujeito responsável pela proposta de Transposição Didática dos conteúdos, a partir dos seus discursos constituídos de códigos que se traduzem em conhecimentos. Percebeu-se a preocupação em dar respostas à realidade que os estudantes enfrentam e apresentam na sala de aula, logo ao tentar tornar o

conhecimento sociológico o mais compreensivo, restringe o repertório teórico- conceitual. Outra consideração é que os estudantes demonstram interesse pela

Sociologia, mas constataram-se lacunas nos conhecimentos de História e Geografia, na turma da primeira série, implicando em limitações na apreensão desses conhecimentos que tinham esses conteúdos como pré-requisitos. Evidenciou-se a estreita relação entre o ensino de Sociologia, a escola e a juventude rural, a qual carece de acesso à educação pública e de qualidade, bem como, necessita, principalmente, de um currículo, de uma proposta pedagógica e de práticas que não minimizem o acesso ao conhecimento amplo e desconsiderem seus modos de vida, pelo contrário, que legitimem uma educação do e para o campo, evidenciando-se a importância dos conhecimentos sociológicos como entendimento da realidade vivenciada.