INVESTIGAÇÃO FILOSÓFICA DE NOTÍCIAS FALSAS: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE FILOSOFIA

Abstract

O problema da produção e reprodução de Fake News tem repercutido na escola e nas aulas de Filosofia. Atentos à dinâmica das redes sociais, os alunos têm acesso a eventos cotidianos polêmicos que emergem em suas conversas e em questionamentos durante as aulas. Em Filosofia, muitas vezes, assumem-se posições em torno da questão da verdade e da possibilidade de conhecer e estabelecer critérios de veracidade dos fatos. Além disso, a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2018) enfatiza a necessidade de desenvolver a criticidade no ambiente das novas tecnologias de comunicação e informação, criando uma cultura digital ou alfabetizando digitalmente em face de conteúdos e publicações que viralizam e fomentam o fenômeno da pós-verdade, em que as opiniões se sobrepõem aos fatos. Diante dessas necessidades, minha hipótese é que o ensino de Filosofia pode contribuir na construção de uma proposta pedagógica de investigação das Fake News no Ensino Médio, especificamente adotando um posicionamento ontológico. Tal posição pode despertar nos estudantes um agir cognitivo que estimule a capacidade mental de escavar e garimpar as coisas, traduzindo-as a partir de um processo investigativo calcado em bases ontológicas. Dessa forma, produzimos, a partir desse referencial teórico, uma proposta pedagógica para o ensino de Filosofia, tendo como centro a investigação de Fake News. Como produto pedagógico, foram elaboradas duas sequências didáticas, uma voltada para a modalidade presencial e outra para o formato remoto. A primeira, não tendo sido aplicada devido à pandemia mundial, só pode ser aproveitada em condições normais de aulas presenciais. A segunda proposta, efetivamente aplicada, é uma sequência didática com atividades envolvendo análise de textos filosóficos, construção de mural colaborativo e momentos de investigação de notícias falsas, que culminam na produção coletiva de um podcast. A pesquisa foi desenvolvida com um viés metodológico qualitativo, a partir de alguns dos pressupostos da ontologia delineada por Chasin (2009), determinações e critérios da pesquisa-ação tal como abordada por Thiollent (1986) e aportes da Filosofia da educação de Saviani (1996), Duarte (2010) e do ensino de Filosofia de Dias (2010) e Silva e Alves (2016). Na pesquisa teórica em torno do tema das Fake News e sua consorte pós-verdade, bem como o contexto histórico e ideológico em que se situam, recorri a abordagem de Souza (2018b), D’Ancona (2018), Evangelista (2006), Eagleton (1998) e Jameson (2004). A análise de dados demonstrou que na aprendizagem filosófica é possível comparar e demarcar o terreno das diferentes epistemologias e ontologias, compreendendo a ontologia marxiana como uma possibilidade no desvendamento do verdadeiro e do falso. Com base nos pressupostos dessa posição ontológica, foram realizadas investigações de diversas notícias. Nas atividades desenvolvidas pelos alunos, predominaram algumas tendências: explicitação das partes investigadas na notícia, denúncia das insuficiências do texto, comparação de informações com outras fontes e síntese depurada do processo investigativo, sedimentada na análise imanente e rejeitando critérios subjetivos ou apriorísticos.