INSERÇÃO DA EDUCAÇÃO PERMANENTE NAS PRÁTICAS DE ENSINO DO SERVIÇO DE ATENDIMENTO PRÉ-HOSPITALAR MÓVEL

Abstract

INTRODUÇÃO Um dos princípios norteadores do Núcleo de Educação em Urgência (NEU), segundo o Ministério da Saúde é a transformação da realidade e seus determinantes, fundamentadas na educação, no processo de situações–problema, extraída do espaço de trabalho e do campo social (BRASIL, 2002). Sabe-se que o espaço do fazer no Atendimento Pré-hospitalar (APH) se caracteriza por múltiplos atendimentos, e é por si só e em si um terreno de grande relevância para a incorporação dos conceitos da educação permanente em saúde como estratégia para o aprendizado no serviço. Para tal, a educação permanente em saúde trabalha com ferramentas que buscam a reflexão crítica sobre as práticas, sendo, per se um processo educativo aplicado ao mundo do trabalho, possibilitando mudanças nas relações, nos processos e atos de saúde e nas pessoas, e uma melhor articulação para dentro e fora do trabalho (SANTANA, 2013). Reconhecer que o trabalhador é produtor do conhecimento e o mundo em que se insere é uma escola, ou seja, que o trabalho é uma escola permanente permite uma mudança paradigmática no APH, já que este serviço se constrói a partir de práticas referenciadas, isto é, a utilização de normas e protocolos, e nisso se embasa e ancora. Por outro lado, a incorporação da Educação Permanente em Saúde (EPS) vem para fortalecer essa aplicabilidade, sob a ótica do trabalhador, reflexivo, critico e criativo. O profissional que atua no APH deve ser versátil, acessível, pois atua em múltiplas situações. O Núcleo de Educação em Urgência (NEUR) do município de Duque de Caxias busca que todo processo de mudança na abordagem didática se dê com a participação dos trabalhadores, possuidores e detentores de saberes que podem contribuir para que as propostas de melhorias tenham sucesso.

Breve contextualização da problemática O estudo em questão retrata a EPS incorporada nas ações de atualização e formação desenvolvidas no NEUR do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) no município de Duque de Caxias – Região Metropolitana do estado do Rio de janeiro. Esta iniciativa possibilitou a inserção de novas estratégias que potencializaram as práticas de ensino no serviço, considerando o trabalho como espaço de formação permanente. A problemática que justifica o desenvolvimento desta pesquisa surgiu a partir da percepção pelos autores, na prática e em pesquisa, de que o NEUR poderia nortear suas ações educativas, buscando estratégias que considerasse as vivências individuas e coletivas dos trabalhadores do serviço de APH móvel, utilizando-se dos conceitos da educação permanente para o agir com novas práticas do cuidado. Merhy (2015, p. 14) destaca que ao abrirmos um movimento que procure reconhecer esses acontecimentos, tornando-os visíveis, faz-se uma boa aposta para mudar o eixo dos processos de formação e capacitação no campo da saúde. Percebeu-se, após a realização dos encontros, por meio de diversas manifestações dos profissionais do SAMU, de que o NEUR precisava abordar mais intensamente as questões da prática, do dia-a-dia, da vivência de cada equipe, das práticas coletivas que influenciam o cotidiano das atividades pré-hospitalares. Tornou-se evidente a necessidade de buscar mudanças no enfoque das ações educacionais do Núcleo, isto é, ser readequado, ser conformado com o que está preconizado na Política de Nacional de Educação Permanente (PNEP) instituída pelo Ministério da Saúde, e aplicável às urgências e emergências, sobretudo no que diz respeito ao componente pré-hospitalar. Isto porque os temas eram verticalmente transmitidos na sua totalidade por meio de treinamentos teórico-práticos. No entanto, percebeu-se que não havia intercessão com o cotidiano, com a prática real dos trabalhadores conforme a PNEP preconiza. Ainda sobre os processos educativos dos profissionais da saúde, a educação permanente sinaliza para a realização de práticas que ultrapassem o modelo da educação continuada, estabelecendo uma abordagem que conceba a produção de saberes e de fazeres – não mais vistos de forma segregada, mas compreendido em sua inseparabilidade. (BALDISSERA E BUENO, 2014, p. 191) Neste sentido, Ceccim; Ferla (2009, [s.p.]) acrescentam que:

A necessidade de mudança, transformação ou crescimento vem da percepção de que a maneira vigente de fazer ou de pensar alguma coisa está insatisfatória ou insuficiente em dar conta dos desafios do trabalho em saúde. Esse desconforto funciona como um ‘estranhamento’ da realidade, sentindo que algo está em desacordo com as necessidades vividas ou percebidas pessoalmente, coletivamente ou institucionalmente. (CECCIM, FERLA, 2009).

Deste modo, acredita-se que ao readequar o Núcleo já instituído de acordo com a PNEP, abre-se o caminho para novas possibilidades de atualização no serviço, considerando as vivências e práticas dos servidores-colaboradores no trabalho, no fazer coletivo, de modo a contribuir com a saúde da população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

Apresentação do produto Para concepção do produto buscou-se nas oficinas realizadas trabalhar com a Metodologia da Problematização (Arco de Maguerez), permitindo a discussão das várias realidades encontradas no desenvolvimento do processo de trabalho dos profissionais que atuam no SAMU de Duque de Caxias, e a partir do enfrentamento, propor saídas por meio de ações educativas pautadas nos conceitos da PNEPS e de Emerson Elias Merhy, incorporados ao NEUR. Os resultados das oficinas e as discussões contribuíram para formulação do produto da pesquisa, tendo em vista que o Mestrado Profissional Ensino na Saúde da Universidade Federal Fluminense (UFF), tem como meta a produção de ferramentas para empregos nos diferentes cenários da saúde, sempre vislumbrando novas possibilidades de práticas facilitadoras que intensifiquem o cuidado na saúde, este, centrado nos trabalhadores e usuários do SUS. 1° Produto da pesquisa: Com objetivo de formalizar a adequação do NEUR à lógica da Educação permanente foi elaborada em parceria com a Direção Médica do SAMU, a Portaria SMS/020/2016 (Apêndice 1), tendo em seu contexto as diretrizes da PNEP, inclusive incorporando o Núcleo de Educação Permanente (NEP), que funcionava só como educação continuada, para o desenvolvimento das atividades no pré-hospitalar móvel, e extensível à população, mediante ações educativas em saúde.

2º Produto da Pesquisa: Formação do Grupo Multiprofissional de Multiplicadores do APH. Seguindo as sugestões das oficinas, alguns profissionais que atuam no SAMU de Duque de Caxias com experiência como instrutores foram convidados a compor o Grupo. Este atuará com base nas propostas da EPS, que considera as experiências dos trabalhadores.

3º Produto da pesquisa: Estabelecimento de fluxograma para atendimentos das demandas: Para o atendimento das demandas com base nas análises dos questionários e oficinas foi instituído um fluxo para o planejamento das ações educativas. Sua conformação dependerá da demanda a ser

Público-alvo ao qual o produto se destina O produto destina-se a todos os profissionais que atuam no SAMU e demais serviços de emergências do município de Duque de Caxias, servindo também como referência aos gestores de outros Municípios e Unidades do SUS.

Abrangência Não somente em município de grande porte, vê-se a possível aplicabilidade dessa experiência, como um estudo de caso, nos espaços e programas da rede de urgência e emergência de outros locais do Brasil. Considera-se ainda que sua expansão, mutatis mutandis, para as demais regiões, não só do país, visa à integração dos sujeitos envolvidos no mundo do trabalho, cuja função como ‘escola permanente’, busca transformar suas práticas educativas.

Agradecimentos A todos envolvidos direta e indiretamente, em particular ao Diretor Médico do SAMU, Dr. Diego Vieira Mendes, co-autor da Portaria que instituiu o NEUR.

Referências: BALDISSERA, VDA; BUENO, SMV. A educação permanente em saúde e a educação libertária de Paulo Freire. Editorial - Cienc Cuid Saude, Abr/Jun; 13(2):191-192, 2014. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/26545/pdf_319 Acesso em: Jul. 2016 BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2048/GM, de 05 de agosto de 2002. Regulamenta o atendimento dos Sistemas Estaduais de Urgência e Emergência. Diário 128 Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 6 ago. 2002. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/politica_nac_urgencias.pdf CECCIM, RB; FERLA, AA. Educação Permanente em Saúde – Dicionário da educação em saúde. Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz, [s.p], 2009. Disponível em: http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/edupersau.html. Acesso em: set. 2016 LAPROVITA, D. Núcleo de Educação em Urgência na lógica da educação permanente: serviço de atendimento pré-hospitalar móvel. 2016. 147 f. Dissertação (Mestrado Profissional de Ensino na Saúde) - Escola de Enfermagem Aurora de Afonso Costa, Niterói, 2017. http://www.repositorio.uff.br/jspui/bitstream/1/3110/1/Daniel%20Laprovita.pdf

MERHY, EE. Educação Permanente em Movimento - uma política de reconhecimento e cooperação, ativando os encontros do cotidiano no mundo do trabalho em saúde, questões para os gestores, trabalhadores e quem mais quiser se ver nisso. Saúde em Redes, [s.l.], v. 1, n. 1, p. 7-14, 2015. Disponível em:http://revista.redeunida.org.br/ojs/index.php/rede-unida/article/view/309/15 Acesso em: mar. 2016. SANTANA, JBC; DUTRA,BLA,;CAMPOS, AMC. Profile of nurses fron a móbile urgency care services. Journal of Nursing UFPE on line, Vol 7, No 7 (2013) [acesso em 2016 Março]. Disponivel: http://www.revista.ufpe.br/revistaenfermagem/index.php/revista/article/view/3418. Acesso em: abril de 2016

APÊNDICE 01: PORTARIA Nº 20/SMS/2016, 11 de Julho de 2016. “Implanta o Núcleo de educação em Urgência – NEUR – no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde do município de Duque de Caxias”.

APÊNDICE 01: PORTARIA Nº 20/SMS/2016, 11 de Julho de 2016. “Implanta o Núcleo de educação em Urgência – NEUR – no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde do município de Duque de Caxias”.

APÊNDICE 2: