As modinhas de Raimundo Ramos nas encruzilhadas do tempo: canção popular e ensino de história

Abstract

Na pesquisa em Ensino de História aqui materializada foram utilizadas, entre outras produções, modinhas seresteiras de Raimundo Ramos, conhecido popularmente como “Ramos Cotôco” - um astuto “bohêmio” e mediador cultural cearense –-, admitidas, considerando as especificidades das linguagens musical, enquanto narrativas que configuram práticas antidisciplinares parcialmente refratárias aos projetos de modernidade que procuravam se impor no Brasil entre as últimas décadas do século XIX e as primeiras décadas do século XX. Compostas no interstício dos anos de 1888 a 1906, essas poesias e modinhas golpeavam temas diversos relacionados ao cotidiano fortalezense como gênero, raça, moda, costumes, meio, remodelações urbanas, controle social, bohêmia, migrações, etc. Nas experiências de ensino desenvolvidas na educação básica, a produção modinheira e poética de Ramos foi analisada a partir do diálogo com pensadora(e)s como bell hooks, Lélia Gonzalez e Frantz Fanon, com vistas a discutir a formação patriarcal-racista do país, estruturada a partir da colonização, e a moldagem de sua face atual que estava sendo gestada na esteira dos projetos da modernidade assentados no higienismosanitarista e no darwinismo social em curso no período de transição do regime monárquico e escravocrata para o sistema republicano calcado no trabalho livre-assalariado. Nesse ínterim, as modinhas foram utilizadas em sala de aula enquanto recurso didático, fonte histórica e produto artístico, a partir das discussões elaboradas, entre outros, por José Geraldo Vinci de Moraes, Marcos Napolitano, Miriam Hermeto, Kátia Abud, José D’Asssunção Barros e Olavo Soares. Tendo como referência pesquisadora(e)s do Ensino de História, como Isabel Barca, Maria Auxiliadora Schmidt e Peter Lee, os resultados obtidos nas experiências de ensino realizadas na Escola de Ensino Fundamental e Médio Arquiteto Rogério Fróes com estudantes de 3ºs anos do ensino médio possibilitaram a construção, enquanto produto didático, de uma sequência de ensino pautada na noção de aula-oficina, tendo como eixo central a análise das modinhas seresteiras de Raimundo Ramos.