"A gente nasceu nessa terra, é onde está nossa raiz”. ensino de história em vista da luta camponesa em Itaitinga, Ceará (1980-1990)

Abstract

O Brasil continua sendo um dos países mais desiguais do mundo com relação ao acesso às terras agricultáveis num contexto de violência no campo e concentração de terras pelo latifúndio. Desse modo, a Questão Agrária é uma das questões centrais para pensar o Brasil, e aqui destacamos a relevância do estudo das lutas camponesas desde o Ensino Fundamental. Este trabalho apresenta uma proposta de ensino de História sobre as lutas camponesas com estudantes da Escola Municipal Demócrito Rocha em vista das ações de resistência camponesa em Itaitinga, Ceará, nas décadas de 1980 e 1990, pautado no entendimento de que a luta por terra é parte da história dos camponeses, seja no meio rural ou em áreas urbanas. O estudo tem como ponto de partida a pesquisa historiográfica sobre os camponeses, com ênfase na luta por terra, como sobre o ensino de História, com destaque à educação como prática libertadora. Um realce da dissertação é a investigação do problema agrário em Itaitinga, Ceará, cujo início se dá antes de sua emancipação política quando se observa uma grande mobilização dos agricultores e suas famílias desde a construção do açude Riachão, inaugurado em 1981 através do barramento do rio Pacoti. Tais conteúdos de pesquisa resultaram na elaboração de um Plano de Ensino voltado à Educação Básica, desdobrado em sete sessões e a incorporação metodológica de diversas fontes históricas assumindo centralidade nas estratégias didático-pedagógicas. A experienciação na Escola Demócrito Rocha suscitou múltiplos materiais elaborados pelos estudantes, como Jornais Escolares e Cadernos de Bordo. De relevo também na investigação é a História Oral, tornando possível a incorporação de novos sujeitos, homens e mulheres no fazer-se do movimento camponês em Itaitinga, Ceará, como comprovam as entrevistas e outras fontes. Dessa forma o fio da memória camponesa é um caminho incontornável, aqui abordado quanto à agência dos sujeitos e suas ações de resistência. Quanto à parte propositiva, adotamos uma metodologia que favorece a problematização dos conteúdos nas aulas de História, em diálogo com temas da realidade dos estudantes, assim como o aprofundamento da reflexão sobre a atuação do professor, pesquisador, autor e agente do ensino de História transformador. Destacamos, ao final, a proposta de Plano de Ensino e o material criado pelos estudantes (os trinta e seis Cadernos de Bordo e os dez Jornais Escolares) como de grande relevo desta pesquisa.