“Ser tocantinense”: Ensino de História regional e memória histórica da criação do estado do Tocantins (1981-1990)

Abstract

A pretensão desta pesquisa qualitativa é compreender como os estudantes da 3ª série do ensino médio da Escola Estadual Anaídes Brito Miranda, localizada no município de Santa Fé do Araguaia, no estado do Tocantins, percebem e mobilizam a memória histórica e a cultura política-identitária regional imaginada e legitimada acerca da criação do estado do Tocantins, utilizando-se do recorte temporal de 1981 e 1990, período que circunscreve o terceiro movimento autonomista do antigo Norte de Goiás, que inicia com mobilizações para a criação do Tocantins até a oficialização de Palmas enquanto capital deste estado. Embasado teórico-metodologicamente na Pesquisa-ação Participante (Thiollent, 2007) que prioriza a relação do saber entre professores e estudantes em sala de aula, o trabalho tem o intuito de analisar o debate e operação historiográfica no ensino de História (Bittencourt, 2008) acerca do processo autonomista do Tocantins, visando elucidar e problematizar quais sujeitos e eventos estão vinculados à(s) História(s) da criação do estado do Tocantins a partir da construção sócio-histórica dos estudantes. Essa abordagem metodológica nos dará aporte para identificar as possibilidades de um ensino de História Regional (Neves, 2000) a partir do uso de fontes históricas em sala de aula, como a utilização de fotografias e músicas institucionais que reiteram o discurso da fundação e do mito político, a percepção da identidade tocantinense e o sentimento de pertencimento ao lugar “inventado” a partir de 1988. Concluímos que, majoritariamente, os estudantes evocaram suas memórias a partir do corpus do mito do herói, mas também de movimentos e sujeitos que também lutaram pelo processo emancipador do estado do Tocantins, como a Comissão de Estudos dos Problemas do Norte Goiano (CONORTE) e da Casa do Estudante do Norte Goiano (CENOG), ressignificada dos anos 60. Além disso, os estudantes identificaram os significados e os interesses da elite política regional pelas necessidades das representações e símbolos de estado, permitindo um rompimento do discurso hegemônico e de poder da elite dirigente regional.