DELIRIUM TREMENS: Alcoolismo e políticas públicas na cidade do Rio de Janeiro (1895-1921)

Abstract

A presente pesquisa analisa historicamente a construção e a propagação dos discursos médicos e jurídicos em torno do alcoolismo e das políticas públicas antialcoólicas na cidade do Rio de Janeiro entre 1895 e 1921. Esse recorte temporal, que se estende do final do século XIX ao início da década de 1920, coincide com um período de intensificação dos debates científicos e legais sobre o alcoolismo. A escolha da cidade do Rio de Janeiro – então capital federal – se justifica por sua centralidade nas discussões intelectuais e na formulação de políticas públicas da época. O objetivo central do estudo consiste em analisar como esses discursos médicos e jurídicos definiram o alcoolismo como problema social e fundamentaram iniciativas e políticas públicas de combate ao seu abuso. Como fontes principais, foram examinadas duas teses médicas do período – de Joaquim José da Nova e de Armando Marcondes Machado – e um livro jurídico de Evaristo de Moraes, obras que abordaram a questão do alcoolismo sob perspectivas científicas e legais. A dissertação está estruturada em quatro capítulos. O Capítulo 1 discute a construção do alcoolismo como doença pela medicina brasileira oitocentista, destacando as influências teóricas europeias nesse processo. O Capítulo 2 investiga a trajetória do movimento de temperança nos Estados Unidos, Inglaterra e França, contextualizando os discursos e as ações antialcoólicas nesses países. No Capítulo 3, analisa-se a recepção e a aplicação das ideias antialcoólicas no Brasil da Primeira República, evidenciando as implicações sociais, raciais e de classe associadas ao combate ao álcool. Por fim, o Capítulo 4 apresenta uma proposta de sequência didática sobre bebidas alcoólicas e história para o Ensino Médio, voltada a promover o debate crítico sobre o tema em sala de aula. As principais conclusões indicam que a medicina desempenhou um papel central na configuração do alcoolismo enquanto problema social, legitimando intervenções do Estado, e que o discurso antialcoólico foi direcionado de forma seletiva a diferentes segmentos da população – notadamente às camadas populares e grupos marginalizados –, refletindo preconceitos de classe e raça. Como contribuição pedagógica, o trabalho resultante inclui a elaboração de um material didático que permite levar esse debate histórico-crítico ao contexto escolar, por meio da sequência didática desenvolvida.