TRANSGREDINDO O CLÁSSICO: DA SUBVERSÃO CURRICULAR À ENEIDA REPRESENTADA E ANIMADA COM O 6º ANO

Abstract

Este trabalho teve como objetivo principal a construção de uma prática pedagógica voltada ao estímulo da consciência histórica, por meio da elaboração de uma animação sobre a Eneida, de Virgílio, e da promoção de reflexões capazes de levar o alunado a repensar a História Antiga sob a perspectiva de uma cultura mediterrânea, e não exclusivamente europeia. Através da abordagem do confronto entre Roma e Cartago, que sublinham a narrativa poética, buscamos explorar, com base nos estudos das representações sociais, as formas pelas quais essas sociedades são figuradas no poema épico e como essas imagens se relacionam com o contexto político e ideológico da Roma augustana. A escolha pelo Mediterrâneo antigo como chave de leitura dialoga com as renovadas abordagens da História Antiga, que ultrapassam as fronteiras político-culturais tradicionais e buscam evidenciar as interações, conflitos e circularidades entre os diversos povos e culturas da região. Partimos da constatação de que os estudos clássicos no Brasil possuem uma trajetória fortemente marcada pela valorização das produções greco- romanas, frequentemente associadas a um ideal civilizatório europeu que serviu, historicamente, à formação das elites letradas. Esse viés consolidou um ensino de História Antiga que reforça estereótipos e promove apagamentos, sobretudo no que tange a povos africanos e orientais. Apesar das transformações curriculares em curso, tais permanências ainda estruturam os conteúdos escolares, mantendo o predomínio das chamadas “sociedades clássicas”. Frente a esse cenário, propomos uma abordagem pedagógica que tensiona e subverte o cânone, utilizando uma fonte romana para refletir criticamente sobre Cartago e suas representações. Através do trabalho com turmas do 6º ano do Ensino Fundamental II, promovemos uma experiência didática que envolveu a leitura da nossa produção de uma adaptação textual do Livro I da obra de Virgílio, a análise crítica de seus elementos simbólicos e a produção coletiva de roteiros e storyboards, culminando na elaboração de uma animação digital. Esse processo, mediado pelo trabalho docente e pelo protagonismo estudantil, permitiu que os(as) discentes reinterpretassem a narrativa virgiliana a partir de seus olhares e vozes, resultando em (novas)leituras de um clássico antigo. Dessa forma, a pesquisa inscreve-se em uma proposta de subversão curricular e de transgressão criativa dos clássicos, ao utilizar o espaço dedicado ao estudo da Roma Antiga para refletir sobre Cartago e o Mediterrâneo antigo, partindo do princípio de alteridade para deslocar nosso olhar sobre o passado e abrir espaço para outras histórias e representações no ensino escolar de História Antiga.