A produção de um material didático para fazer artes e antropologia na escola

Abstract

O trabalho apresenta a elaboração de um material didático voltado ao ensino de Antropologia no Ensino Médio com ênfase nas visões de mundo dos povos indígenas Guarani. A proposta procura levar os estudantes a compreenderem os modos diversos de habitar o mundo, a partir de experiências filosóficas, técnicas e práticas que expressam o bem-viver, a agricultura, a relação com as plantas e os territórios pelos povos Guarani. A intenção é deslocar o olhar dos alunos para além da ideia de cultura como um inventário de diferenças, propondo o contato com concepções indígenas que revelam outras formas de conhecimento e tecnologia. A escolha por trabalhar com narrativas, textos, imagens e materiais audiovisuais responde à necessidade de criar recursos pedagógicos que promovam pesquisa, reflexão crítica e produção criativa. As seções do material estimulam leituras coletivas, diálogos, registros gráficos e produções de desenhos e instalações artísticas. O material privilegia o caráter processual da aprendizagem, valorizando a atenção às diferenças, a responsividade e a abertura ao outro. A perspectiva teórica adotada aproxima-se da concepção de escola como espaço de tempo livre, entendida como lugar de encontro e partilha de mundos, em contraposição a abordagens centradas na produtividade e no acúmulo de competências. Nessa direção, a noção de correspondência, formulada por Tim Ingold, inspira a proposta ao enfatizar o conhecimento como movimento de caminhar junto e responder ao mundo, mais do que representá-lo. A atenção ao processo e à criação coletiva orienta o uso do material em sala de aula, em que os deslocamentos cognitivos e sensíveis provocados pelo contato com os povos Guarani se tornam oportunidade de estranhamento e de aprendizagem compartilhada. Assim, o material não se limita a transmitir informações sobre os povos indígenas, mas pretende possibilitar experiências de diálogo e pesquisa que investiguem a pluralidade de formas de vida. Ao propor atividades que articulam arte e antropologia busca-se renovar o ensino de Sociologia, ampliando a compreensão da diversidade humana e questionando visões convencionais sobre natureza, cultura, ciência, técnicas e tencologias.