A transição da inserção de enfermeiras obstétricas em sala de parto de Hospital de Ensino como estratégia do projeto Apice On para a ressignificação do parto e nascimento: um estudo de caso”

Abstract

O Ministério da Saúde, ao longo de quatro décadas, empenha-se na formulação de proposições políticas que determinem avanços na atenção à saúde das mulheres sustentados por evidências científicas. Recentemente, em 2017, lança o Projeto de Aprimoramento e Inovação no Cuidado e Ensino em Obstetrícia e Neonatologia (Apice On). Propunha qualificar e reconfigurar os processos de atenção, gestão e formação em obstetrícia e neonatologia em 97 Hospitais de Ensino do país, cenários responsáveis pelo desenvolvimento dos futuros profissionais de saúde. O objetivo desta pesquisa é compreender a transição da inserção da enfermeira obstétrica em Sala de Parto a partir do Projeto Apice On em uma Instituição Federal de Ensino, Pesquisa e Assistência, por meio da Teoria das Transições de Afaf Meleis. Trata-se de um estudo de caso único, do tipo descritivo, sustentado pela abordagem do método misto, a partir do Projeto Incorporado Concomitante. No âmbito qualitativo participaram 10 enfermeiras obstétricas e 8 médicos obstetras assistenciais e gestores envolvidos na implantação desta política de saúde nesta Instituição de Ensino, localizada no município do Rio de Janeiro. A coleta de dados fundamentou-se na entrevista semiestruturada aplicada nos meses de outubro de 2021 a abril de 2022 e, posteriormente, submetida a análise de conteúdo temática de Bardin, com apoio do software ATLAS.ti. Sob a vertente quantitativa as variáveis registradas no livro de indicadores obstétricos referentes ao período de maio de 2018 a junho de 2020 foram lançadas no software Epi Info 7® e submetidos a estatística descritiva via Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)®. Os resultados qualitativos descreveram a percepção dos participantes sobre a trajetória de execução do projeto Apice On, as nuances que perpassaram a inserção da enfermeira obstétrica em sala de parto e a compreensão do modelo colaborativo em obstetrícia em hospital de ensino. Alguns indicadores obstétricos elucidaram o alinhamento das práticas profissionais quanto às boas condutas obstétricas e neonatais descritas em diretrizes nacionais e internacionais. Mediante a correlação dos dados conclui-se que no campo da qualificação da gestão faz-se necessário ampliar fluxos comunicacionais organizacionais sobre as diretrizes políticas institucionais assim como utilizar os indicadores como ferramenta de avaliação e divulgação; no campo da qualificação da formação, resgatar preceitos da educação interprofissional entre os programas de residência médica em obstetrícia e ginecologia e de enfermagem obstétrica como caminho para se efetivar a longo prazo a prática colaborativa em obstetrícia; e no campo da qualificação da atenção considerar como imprescindível a plena atuação da enfermeira obstétrica, seja no acompanhamento a gestantes de risco habitual, seu escopo profissional, mas também na oferta de cuidado humanizado e vigilância necessária às mulheres com alto risco gestacional.