O ESPAÇO URBANO E O SAMBA: AFROPERSPECTIVAS PARA APLICAR PLURIVERSO DO SAMBA COMO FERRAMENTA PEDAGÓGICA

Abstract

Caro(a) leitor(a), este e-book tem como objetivo auxiliar alunos e professores a explorarem temas relacionados à cidade e à geografia urbana com o uso do samba. O samba é um instrumento de crônica do espaço urbano com base nas afroperspectivas de homens e mulheres negras que vivenciam a cidade a partir de experiências de racismo, marginalização, desemprego e violência de gênero, e que carregam a ancestralidade africana como esteio da resistência ao racismo estrutural e estruturante da sociedade brasileira. Discutir geografia através do samba, do rap, do funk são possibilidades de entender o espaço geográfico a partir do olhar, do gingado, da poesia, do modo de vida das populações negras e periféricas que são grande parte dos nossos estudantes. Neste material pedagógico trabalharemos o samba a partir de uma visão ampla considerando a música, a história, a estética, os ritmos originários, a espiritualidade, a dança, origem do samba e a biografia dos sambistas. Para possibilitar um olhar decolonial assumimos um posicionamento teórico baseado na filosofia afroperspectivista, elaborado pelo filósofo Renato Noguera, que aborda paradigmas afrocêntricos da localização psicológica e da agência a partir da África. A África que propomos como referência não se trata de uma “África mítica” ou idealizada, mas aquela diversa que se espalhou pelo mundo a partir da diáspora forçada (tráfico humano) no período da escravização. Esta África está presente nas nossas práticas cotidianas e, também, no samba, na capoeira, na dança, no drible entre outras expressões culturais negras. Para conseguir atingir uma visão espacial em afroperspectiva, iniciamos nossa jornada com a ajuda dos valores civilizatórios afro brasileiros, para que no fim desta sequência consigamos capturar o interesse do alunado na produção de uma visão da cidade a partir dos seus mais diversos produtores. Recorremos aos valores civilizatórios afrobrasileiros sistematizados pela educadora Azoilda da Trindade, a saber: oralidade, religiosidade, energia Vital (Axé/Nguzo/Moyo), corporeidade, ludicidade, musicalidade, memória, ancestralidade e comunitarismo. As afroperspectivas estão presentes em filosofias, metodologias, conceituações e práticas elaboradas a partir do uso de heranças africanas. Por meio delas, “pequenas áfricas” se espalham pelo espaço urbano e podem ser identificadas a partir da existência de Valores Civilizatórios Afro-brasileiros corporificados em expressões culturais afrodiaspóricas. O objetivo das atividades é que os estudantes sejam capazes de identificar estruturas do espaço urbano que possuam referências africanas. O campo da geografia que trabalhamos foi a geografia urbana, que é conteúdo presente no currículo referencial da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro, para o 2º ano do Ensino Médio.