POLÍTICAS PÚBLICAS EDUCACIONAIS E ASCONDIÇÕES SOCIOECONÔMICAS DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO EM BOA VIAGEM (CE) E SEUS IMPACTOSNO CONTEXTO DE ENSINO REMOTO E PRESENCIAL ANTES E NO PÓS-PANDEMIA

Abstract

Já faz tempo que a sociologia se debruça sobre a imbricada relação entre as variáveis socioeconômicas e os indicadores de sucesso ou fracasso escolar. A presente pesquisa também debruçará sobre esta relação, entendendo que não se trata de uma relação de determinação, mas de fortíssima influência. Isto porque, na hipótese que procuramos confirmar em campo, os efeitos danosos da pobreza podem ser minimizados ou revertidos por meio de políticas públicas

educacionais. Essa constatação pode ser percebida na observação de duas escolas boa- viagenses, em que jovens compartilham de situações socioeconômicas similares, mas que ao

longo de suas trajetórias estudantis lograrão resultados radicalmente distintos. Aqui, comparando-se uma escola de ensino regular com uma de educação em tempo integral, somos inclinados a perceber que as opções de políticas públicas envoltas na organização de cada um dos ambientes escolares operam, de forma eficaz, seja na neutralização seja na maximização da maneira como as condições socioeconômicas impactam os processos de ensino-aprendizagem. Ou seja, a depender do espaço escolar público, estudantes igualmente filhos da pobreza poderão apresentar resultados de desempenho educacional significativamente distintos. Aqui destacamos a influência da variável “duração do dia letivo” no ensino presencial, em que uma escola dispõe de uma carga horária de 9 horas diárias, enquanto outra conta com apenas 4 horas

e 30 minutos. Entretanto, conforme apontaremos, curiosamente durante a pandemia de COVID- 19, a variável “tempo letivo” foi praticamente anulada pelo ensino remoto, mas ainda assim, os

resultados educacionais se mantiveram igualmente distintos. Neste momento a nossa hipótese se ampliará para dar “mais uma volta no parafuso analítico”, reencontrando, mesmo que de forma discreta e mínima a importância e a força da influência da variável socioeconômica. Ou seja, mesmo quando a pandemia desarranjou as rotinas educacionais públicas, equalizando, no geral, tudo pra baixo, as poucas políticas públicas de reestruturação educacional lograram maior sucesso justamente ao atingir os estudantes um pouco menos pobres, público que já pertencia a escola em tempo integral. Com efeito, ao longo das próximas páginas e nos baseando em dados quantitativos obtidos a partir da aplicação de um survey a 341 estudantes, iluminaremos as relações entre desigualdade social, políticas públicas e sucesso educacional apontando tanto as independências quanto as retroalimentações estabelecidas entre estes campos.