A LEI 10.639/03 E O ENSINO DE SOCIOLOGIA: UMA ANÁLISE SOBRE A PRESENÇA DO NEGRO NO LIVRO DIDÁTICO “TEMPOS MODERNOS, TEMPOS DE SOCIOLOGIA”

Abstract

A escola e o currículo escolar são espaços em constante disputa de concepções e visões de mundo. Em relação às questões de ordem étnico-raciais essa disputa pode se configurar no caráter eurocentrista, que reproduz uma suposta inferioridade dos povos africanos e de seus descendentes, ou aqueles que percebem esses espaços como um lugar de desconstrução dessa “inferioridade” e um caminho importante para transformações nesse sentido. Na prática escolar a transposição do currículo vem sendo feita, principalente, por meio dos livros didáticos, que ainda contam com uma grande aderência na cultura escolar. Nesse sentido, na tentativa de identificar qual o lugar e o tratamento conferidoà história e cultura afro-brasileira e africana nos livros didáticos de sociologia, esta pesquisa, de natureza qualitativa, tem por objetivo analisar as três edições do livro didático “Tempos modernos, tempos de sociologia” em diálogo com inserção de conteúdos relacionados à História e Cultura Afro-brasileira e Africana, propostos pela Lei 10.639/2003 e sistematizados nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais. O livro analisado foi aprovado nos três PNLD´s em que a disciplina de Sociologia foi contemplada, sendo estes os de 2012, 2015 e 2018. A metodologia analítica utilizada é inspirada na Análise do Conteúdo, de Bardin (2016). Desenvolvemos essa pesquisa apoiada em investigações anteriores sobre o negro no livro didático, na perspectiva crítica e pós-crítica do currículo, e nos estudos direcionados à educação das relações étnicoraciais. Os estudos étnico-raciais aparecem aqui não só como aporte teórico, mastambém como base para todo o desenvolvimento do trabalho. Osresultados apontaram que a presença do negro no livro didático “Tempos modernos, tempos de sociologia”está condicionada a um capítulo do livro, no tema da desigualdade social, colocado majoritariamente nas situações de conflito e desigualdade social. Houveram algumas transformações ao longo da publicação das edições, com relação as imagens e breves mudanças no conteúdo textual. Dessa forma, evidencia a necessidade de que o material explore as possibilidades que o ensino de sociologia dispõe para tratar a temática, como também, é preciso repensar o lugar do intelectual negro como referencial teórico no conteúdo textual, bem como, na autoria de livros e materiais didáticos, para além da representatividade, pois é preciso dialogar profundamente como os que dedicaram suas vidas/obras para pensar com rigor a questão racial.