Cadências do corpo, poéticas da voz: a poesia oral do samba de roda do Grupo Pinote (Atena Editora)

Abstract

A obra com a qual me deparo tem ares de cometa. Inicialmente apresentada como texto do Trabalho de Conclusão de Curso da graduação em Letras, nos revela um jovem pesquisador que, na medida em que dá seus primeiros passos no caminho da pesquisa acadêmica, já anuncia seus próximos e bemsucedidos saltos, tendo em vista o rigor, a seriedade e o comprometimento com os quais conduz seu caminhar. Tendo o privilégio de presenciar como se deram, lado a lado, o crescimento da obra e de seu criador, é com imensa alegria que vejo o surgimento de mais um trabalho necessário e relevante para os estudos acerca das poéticas orais. Ao escolher o Grupo Pinote como interlocutor para a pesquisa e o município de Serrolândia como lócus, lança luz sobre as práticas culturais do território de identidade denominado Piemonte da Diamantina e traz consigo a possibilidade de visibilidade para uma região que costuma fugir ao escopo dos que se detêm a estudar o território baiano, alargando nosso olhar para além das fronteiras que circundam o recôncavo. É nesse sentido, sobretudo, que a obra se destaca. Não bastassem tais elementos, o autor apresenta um estudo sensível sobre o samba de roda, evidenciando como as filiações e os afastamentos contribuem para o desabrochar de outros modos de fazer e outros modos de vida que revelam minucias identitárias que podem não ser notadas por olhos e ouvidos mais desavisados. É assim que somos guiados, seguindo a cadência do samba do grupo Pinote e da escrita de Luciano, vislumbrando como os corpos e as vozes dos brincantes se mostram em performance, explodindo em cores e ritmos que nos envolvem desde a cabeça, passando pelo coração e enfim alcançando os pés, que se recusam a ouvir e se manter imóveis. Tal cometa, surge, marca e se vai deixando, com sua cauda, um rastro de luz e cor que anuncia novos ventos. Como costuma não se repetir, que tenhamos a delicadeza e a atenção necessárias para apreciar o que esta obra nos oferece. Abram a roda que eu quero é sambar!