Alfabetismo e cultura visual: uma abordagem do ensino da linguagem visual

Abstract

Caros colegas, este curso tem o intuito de oferecer uma orientação inicial para a adoção do alfabetismo visual, conjugado a cultura visual, nas aulas de artes visuais. Sabemos que, para nós, a visão parece natural e espontânea, porém, apenas o aspecto mecânico, por meio do qual ocorre a percepção das formas o é. O entendimento polissêmico, inerente à imagem – significados, valores, sentidos – é uma abstração, que depende dos repertórios de conhecimentos de cada um. Todavia, o sentido da visão se sucede a cada instante imediato, no cotidiano. É necessário, portanto, a dotação técnica, teórica e a capacidade de contextualização, para que percebamos os sentidos culturais, sociais e políticos referentes ao que é visto. Afinal, como disse Donis Dondis, “o uso da ferramenta Linguagem Visual – que implica saber codificar e decodificar uma mensagem visual – pressupõe o saber operar também em um nível abstrato de compreensão”. Temos por alfabetismo visual o conceito de estudos que abarcam iniciativas, no campo das artes visuais, direcionadas a promover a compreensão plena da linguagem visual (códigos e componentes sintáticos da imagem) que significa a aquisição da capacidade de transmitir, receber e construir mensagens visuais, por conseguinte, que busca a emancipação visual do indivíduo. Introdução 05 Assim, desejamos que este curso, contribua com interesse dos colegas, professoras e professores de artes visuais, de levar para a sala de aula o ensino da linguagem visual, imbuídos da ideia de alfabetização visual dos jovens, na perspectiva de oferecermos a eles, alternativas ao automatismo passivo e superficial das relações cotidianas com as imagens, alimentadas pelo senso comum e, contribuirmos com a construção de uma sociedade mais consciente, mais crítica e ativa. Nas últimas décadas, os meios digitais tornaram-se hegemônicos na mediação da comunicação das sociedades, tornando-a versátil, instantânea e acessível. Assim, a Linguagem Visual, tipificada no desenho, na pintura, na fotografia e na programação visual, que até então, demandava um tempo relativamente longo de execução e requeria um aparato técnico e o labor de especialistas, com o desenvolvimento das tecnologias digitais de reprodução gráfica converteu-se na forma de comunicação amplamente presente nos espaços urbanos. Hoje, diversos programas digitais de desenho, pintura, manipulação de imagens e de programação visual, acessíveis pela rede de internet, que utilizam os conhecimentos da linguagem visual, atendem, instantaneamente as demandas visuais da vida doméstica e do mundo das profissões de milhares de usuários. Assim as cidades tornaram-se o lugar “natural” das imagens e, a comunicação entre as pessoas, seja na esfera material ou no meio digital, passou a depender mais do recurso visual. 06 Para o cidadão comum, a comunicação deve ser rápida e instantânea, pois, para ele, não há razão, nem tempo de ler textos longos. Afinal, ele está continuamente conectado à internet e, tudo que acontece ou que já aconteceu está registrado na memória virtual, facilmente acessível, há qualquer momento. Basta uma imagem ou um vídeo curto. A imagem já diz tudo. A imagem é o texto em estado bruto. Mas, a imagem é um instrumento de intercessão entre o sujeito e o mundo, essencial na formação da consciência sobre a realidade, e, existem muitos fatores políticos e sócio culturais, determinantes, por trás de uma simples imagem que vemos. “Não há imagem isenta de ideologia”. Mesmo isolada, e por menor que seja, toda imagem indica uma ideia. Sendo assim, toda imagem é elemento de uma narrativa. Ao contempla-la, podemos entender seus significados e tomarmos um posicionamento ou simplesmente sermos afetados e levados a agir inconscientemente. Por isso, é indispensável conhece-la e interpreta-la a fim de que cada um forme as próprias convicções. É preciso ler as imagens. No entanto, para se compreender a estrutura da imagem é necessário possuir conhecimento prévio dos códigos e componentes sintáticos da Linguagem Visual, bem como, é igualmente necessário conhecer os conceitos e metodologias da Cultura Visual para que as camadas de sentidos concorrentes da imagem se evidenciem. 07 O psicólogo alemão Rudolf Arnheim, uma das maiores autoridades nos estudos da forma, autor do livro Arte e percepção visual: Uma psicologia da visão criadora (1972) defende a necessidade de ensinar a ver e ler as informações visuais, pois, considera a imagem uma complexidade de códigos, que devem ser previamente conhecidos, para que ocorra sua eficiente leitura. Para ele, no processo de comunicação a percepção da imagem também é uma etapa criativa em que a experiência estética exerce considerável influência. Por isso é necessário, também, conhecer os estudos da cultura visual, a fim de ampliar os sentidos concernentes as imagens. Paulo Freire afirmava que decidir por uma abordagem que facilite o entendimento da própria realidade e desperte em cada um o seu papel como agente transformador da sociedade é uma iniciativa que reflete a “politicidade” do processo de ensino, pois ela se sustenta em ideais que definem a sociedade em uma perspectiva transformadora. Nesse sentido, abraçar o Alfabetismo Visual em nossas escolas significa promover a emancipação visual do indivíduo, na direção da construção da cidadania plena, na superação da cidadania mutilada, como nos alertou Milton Santos.