Formação de Professores Indígenas pela Universidade Federal da Grande Dourados: a gênese da licenciatura intercultural indígena Teko Arandu

Abstract

Esta pesquisa teve como objetivo analisar as percepções das lideranças e professores indígenas das etnias Guarani e Kaiowá – que atuam nas escolas indígenas da Aldeia Amambai, localizadas no estado de Mato Grosso do Sul –, egressos do curso de formação de professores indígenas da Licenciatura Intercultural Indígena Teko Arandu, da Universidade Federal da Grande Dourados, sobre as contribuições desse curso para suas formações, a fim de atuarem em escolas indígenas. Para a produção e análise dos dados, a metodologia foi estruturada a partir da concepção das pesquisas pós-críticas em educação. Fez-se a produção de dados por meio da revisão bibliográfica, de análises documentais, bem como recorreu-se à utilização de entrevistas semiestruturadas. Em função do momento de pandemia da covid-19, as entrevistas foram realizadas tanto por meio do envio de um roteiro com perguntas abertas e fechadas aos entrevistados via e-mail quanto por ligações telefônicas, conversas e gravações de áudio via WhatsApp. As entrevistas ocorreram com quinze indígenas, dentre eles: nove egressos do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena Teko Arandu da UFGD, uma acadêmica do referido curso e cinco lideranças indígenas. O campo empírico articula-se a partir de três escolas indígenas da Aldeia Amambai onde encontram-se os egressos do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena Teko Arandu da UFGD. Foram utilizados, para a execução deste trabalho, autores do campo teórico-metodológico – dos Estudos Culturais, em articulação com os Estudos Pós-Coloniais e Estudos da Modernidade/Colonialidade, com algumas das perspectivas envolvendo a interculturalidade crítica e as discussões em torno das questões sobre a criação e reformulação do Curso de Licenciatura Intercultural Indígena Teko Arandu da UFGD – em interlocução com a realidade em estudo. Os resultados apontam para: 1) o protagonismo do Movimento dos Professores Indígenas Guarani e Kaiowá; 2) a articulação dos egressos do Curso Normal Médio Ará Verá com o Movimento dos Professores Indígenas Guarani e Kaiowá; 3) o envolvimento de instituições parceiras, como a Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul (SED/MS), as Secretarias Municipais de Educação da região do Conesul do estado e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI), traduzindo-se na elaboração da proposta inicial do curso de formação de professores indígenas acolhida pela UFGD, em 2005. Concluiu-se que o Curso de Licenciatura Intercultural Indígena Teko Arandu da UFGD atendeu às exigências de uma formação específica e diferenciada dos professores indígenas das etnias Guarani e Kaiowá da Aldeia Amambai, egressos do referido curso, obedecendo à interculturalidade frente ao PPC (2006), porém com lacunas após a reformulação desse PPC. Assim, a maioria relata que houve o respeito à espiritualidade, à identidade, de modo a mostrar outras epistemologias e concepções/visões de mundo assumidas por lutas a favor de sociedades interculturais e democráticas; situação similar, todavia, não ocorreu quando da reformulação do PPC (2006), em virtude de questões burocráticas oriundas do SIGECAD – órgão da UFGD – e dos novos professores do curso.