“É TUDO NOSSO E NADA DELES”: O ENSINO DE HISTÓRIA E AS PRODUÇÕES DE SENTIDO PARA OS EDUCANDOS DA EJA NO SISTEMA PENAL DE SALVADOR

Abstract

O presente trabalho discute o Ensino de História e as possíveis produções de sentido dos educandos da EJA, resultantes do entrechoque entre as realidades e as expectativas do cárcere e da escola no âmbito prisional soteropolitano. Desafiado pela escassez de estudos sobre o tema, o principal objetivo deste trabalho consistiu em investigar os significados atribuídos pelos estudantes, privados ou em situação de restrição de liberdade, aos saberes históricos produzidos na dinâmica do Ensino de História nas celas de aula, compreendendo a formação de uma consciência histórica a partir de um processo formativo que, além de não ser neutro, é parte de um confronto entre a subjugação e a resistência. Teoricamente fundamentados em conceitos de pedagogia crítica, educação em prisões, consciência histórica e operação historiográfica escolar, entendemos que a consciência histórica não é um privilégio de alguns indivíduos capazes de pensar a História, mas um elemento que compõe o cotidiano do homem. Os alunos, em geral, são dotados de consciência histórica, pois diariamente são levados a lidar com situações que exigem reflexão e interpretação da realidade. Com o intuito de responder à questão central deste estudo, desenvolvemos uma pesquisa colaborativa de abordagem qualitativa, para valorizar a participação e o lugar de fala dos sujeitos. A análise do conteúdo produzido ao longo da pesquisa nos apontou que a identidade e a consciência histórica dos educandos, em situação de privação ou restrição de liberdade, emerge do entrelaçamento com seus referenciais do presente e do passado, visões de mundo e trajetórias de vida. Como produto final, apresentamos uma proposta de sequência didática, orientada para a valorização e a construção de novos saberes, a emancipação dos sujeitos, a literacia histórica e a colaboração.