Mapa Conceitual do primeiro período de medicina da UFAL: o silêncio dos inocentes

Abstract

Diva, menina, parda, 11 anos, ginasta (Ginástica Rítmica - GR) de um projeto social, moradora da favela Mundaú. Filha de mãe solteira, cuja profissão é marisqueira. Há pouco tempo sua mãe, Maria, se envolveu afetivamente com um homem alcóolatra, o qual dividia o mesmo barraco. Maria deixava com ele seus quatro filhos para ir trabalhar, no horário que as crianças não estavam na escola. Diva, recentemente, queixava-se de fortes dores nos ossos durante as aulas de GR, ao ponto de não conseguir mais executar os movimentos que fazia com tanto primor, além disso, Diva, parecia triste, indisposta, com ganho significativo de peso e se isolava da equipe. A treinadora foi conversar com a mãe e percebeu que a menina não contava suas queixas a ela. A partir da conversa com a professora, a mãe começou a ficar atenta ao dia a dia da filha e percebeu dois hematomas em seu corpo, ao entrar de surpresa no banheiro durante seu banho. A menina ficou nervosa e disse que as manchas em seu corpo eram provenientes das atividades físicas exaustivas no GR. A mãe procurou a treinadora da equipe de competição de GR e disse que, se sua filha continuasse sentindo essas dores iria tirá-la da equipe. Dias após, a criança queixa-se de lombalgia, dores nas pernas, pés e quadril. A mãe vincula as dores a fase de estirão, já que sua filha vem crescendo muito e está na puberdade. Certo dia ao chegar em casa encontrou a porta do barraco aberta, sua filha deitada na cama, chorando muito e ao lado seus outros três filhos. Sua filha não conseguia andar de tanta dor que sentia e não sabia explicar onde estava o padrasto. Rapidamente, sua mãe levou sua filha ao HGE. Chegando no HGE, a mãe foi informada que o caso de Diva não era emergência, mas sim urgência e que ela deveria se deslocar para a UPA Trapiche da Barra. O médico da UPA ao fazer um exame físico percebeu um encurtamento do músculo grande dorsal e de pequenos músculos inseridos entre os processos transversos da coluna, justificando a lombalgia. No quadril, um encurtamento do músculo piramidal e pisiforme. No joelho, tendinite intrapatelar com torções. Nos tornozelos havia lesões desencadeadas por entorses e inflamações do grupo do tríceps sural e tendinite do tendão de Aquiles. Também observou um encurtamento de ísquio-tibiais e dos retos abdominais e oblíquos. Para fechar seu diagnóstico, o médico solicitou Raio X de ossos, da bacia, da coluna e do joelho. De acordo com o RX a criança não apresentava nenhuma fratura. Ao acabar o exame físico, o médico disse: o esporte pode ser muito cruel com o atleta, mas o treinador(a) pode ameninar os riscos. O médico descartou a possibilidade de fraturas de estresses e de Síndrome da Criança Espancada, visto que não identificou fraturas, nem sinais de abuso; por isso não se dirigiu a um dos três órgãos que tem incumbência de tomar as providências necessárias quando constatado agressão física.