Plano de ação para escola de futebol do Município de Acaraú

Abstract

Acreditamos, segundo um levantamento referencial, que a função das escolinhas de futebol é a mesma das escolas, ainda que não seja um espaço formal de ensino, o seu objetivo, evidentemente, é o de ensinar futebol. Entretanto, o que deve ser ensinado é além dos aspectos técnicos e táticos do futebol. O futebol é sem sombra de dúvidas o esporte mais praticado no mundo e no Brasil em especial tornou-se mais que uma prática esportiva, faz parte da identidade cultural do país. Ainda sobre o futebol Daólio (1997, p. 102) afirma ainda que o futebol “[...] expressa a sociedade brasileira, com todas as suas aspirações mais antigas, seus desejos mais profundos e suas contradições mais camufladas". Segundo afirma Freire (2011) com processo de urbanização, diminuiu-se a quantidade de espaços que permitissem a prática do futebol, as ruas foram asfaltadas e substituídas por prédios fazendo com que os locais de aprendizado antes ocupado pela rua, migrassem para ambientes fechados em especial a escola formal e escolas de futebol, ambiente informal, portanto, o futebol passou a ser ensinado não apenas por meio do brincar de maneira não formal. Por fazer parte da cultura e por refletir o meio social em que se vive tanto em seus aspectos positivos e negativos é pertinente pensarmos como ele está sendo ensinado e que valores ele está fortalecendo a seus praticantes. Essas indagações tornam-se extremamente significativas quando nos referimos a uma escola de futebol, pois, consciente ou não, esses espaços de ensino-aprendizagem do futebol colaboram na formação de crianças e adolescentes que as escolheram como local da prática dessa vivência corporal. Por isso, a escola de futebol deve ter clareza do caminho pedagógico que irá trilhar, no caso específico da escola de futebol nos referimos a que método de treinamento irá utilizar para suas aulas de futebol. Diversas são as classificações quando falamos de treinamento esportivo, como por exemplo: método global, parcial, analítico, jogos e brincadeira, aqui, porém, seguiremos o adotado por Ferreira (1984) ao classificar os tipos de métodos de iniciação esportiva, segundo ele existem dois grandes métodos: reprodução ou transformação. O reprodutivo, ou reprodução, segundo Vargas Neto e Voser (2018) caracteriza-se por ser acrítico, desconsidera os conhecimentos prévios dos alunos e sua história de vida, tem como foco do ensino os aspectos táticos e técnicos, supervalorizando as habilidades esportivas; o professor, por sua vez, é visto como o controlador de atividades, treinador e técnico, com a preocupação única em transformar o aluno em um atleta. Ainda sobre esse método, Vagas Neto e Voser (2018, p. 60) enfatizam que “nele o esporte é valorizado como paradigma ideal de educação, reproduzindo os padrões sociais da classe dominante”. Observa-se a relação íntima entre este modelo e o modelo comportamentalista (MIZUKAMI, 1998) chamada por Luckesi (1999) como tendência liberal tecnicista, sobre seu objetivo ele ressalta que “a tendência liberal tecnicista subordina a educação à sociedade, tendo como função a preparação de ‘recursos humanos’" (Luckesi 1999, p. 55). Essa descrição é encontrada facilmente em diversas escolas de futebol que tem como objetivo principal formar atletas para clubes profissionais tornando em espaços não de formação e sim de exclusão, as chamadas escolinhas seletivas. Por outro lado, há o modelo de transformação (VAGAS NETO E VOSER, 2018) caracterizado pelo ato de reflexão da realidade, acolhendo as histórias de vidas dos envolvidos, a prática esportiva é consciente dos sujeitos numa concepção dialética. O professor explora situações de conflitos para refletir sobre a realidade, o foco da aprendizagem é o aluno, por isso mesmo utiliza-se de metodologias ativas que fazem com que ele se torne participativo no seu processo de aprendizagem e apresente uma formação formativa. Este plano segue uma concepção do modelo de transformação e tem por objetivo proporcionar (organizar) um processo de ensino de futebol que ultrapasse o simples ensinar futebol, mas que a escola de futebol possa contribuir com a formação de uma geração mais crítica e atuante na sociedade, como afirma Darido (2007) quando se refere ao ensino de futebol [...] quando for tratar de futebol, ir além do fazer (técnicas e táticas), mas abordar a sua presença na cultura, as suas transformações ao longo da história, a dificuldade da expansão do futebol (causas e efeitos), a mitificação dos atletas de futebol, os grandes nomes do passado, a violência nos campos de futebol, entre outras possibilidades. Ou seja, é preciso ir além do costumeiro jogar (DARIDO, 2007, p. 97). Dessa forma, é dever de qualquer escola de futebol ensiná-lo com qualidade, mas urge a necessidade da formação do aluno para sua vida, mas para isso a metodologia de ensino deve caminhar para essa emancipação humana e todos os envolvidos no processo devem ter clareza do que ensinar, como ensino, quem ensinar e para quê ensinar. Portanto, estes espaços devem ter clareza de seu papel no processo formativo das crianças e adolescentes e da própria sociedade.