Discurso e poder: uma análise da cooperação brasileira para o desenvolvimento internacional (2003-2010) (Atena Editora)

Abstract

Este trabalho propõe uma análise da Cooperação Brasileira para o Desenvolvimento Internacional (Cobradi), no período 2003-2010, com foco em seu aspecto discursivo. Situando a cooperação brasileira no contexto mais abrangente da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (CID), este trabalho explora como pronunciamentos oficiais específicos sobre a Cobradi permitem entrever usos estratégicos da cooperação internacional e possíveis mecanismos de poder articulados, bem como as implicações potenciais dessas disputas discursivas sobre a identidade nacional brasileira. Para esse fim, o presente trabalho estrutura-se da seguinte maneira: o primeiro capítulo apresenta o referencial teórico-metodológico da Análise de Discurso Crítica como base ontológica, epistemológica e metodológica desta pesquisa em seu propósito de analisar a dimensão discursiva da Cooperação Brasileira para o Desenvolvimento Internacional, tendo como base três conceitoschave: “discurso”, “ideologia” e “poder como hegemonia”. O segundo capítulo conforma uma análise da conjuntura, apresentando a trajetória da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento através de uma perspectiva transformacional abrangente, considerando o contexto pós- Segunda Guerra Mundial e as transformações ocorridas ao longo das últimas décadas até o início dos anos 2000. Tal análise conjuntural expressa uma interpretação particular sobre os desdobramentos da Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, destacando a evolução do contexto geopolítico e do pensamento sobre desenvolvimento como fatores relevantes nesse processo. O terceiro capítulo versa sobre a cooperação internacional no caso específico do Brasil, apresentando um breve panorama histórico, bem como o arcabouço institucional, levantamentos oficiais e princípios orientadores presentes em posicionamentos institucionais do país no período 2003-2010, os quais conformam uma construção discursiva baseada em princípios de solidariedade, horizontalidade, não condicionalidade, ausência de interesses comerciais, entre outros, no que consiste no foco deste trabalho. O quarto capítulo realiza a análise de oito pronunciamentos oficiais do então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por meio das categorias analíticas da Análise de Discurso Crítica “interdiscursividade”, “dissimulação”, “legitimação” e “unificação”, tendo como foco principal o significado representacional dos textos selecionados. As considerações finais retomam os argumentos desenvolvidos nos capítulos anteriores à luz dos conceitos de system-affecyting state (KEOHANE, 1969) e soft power (NYE, 1990), reconhecendo o discurso brasileiro como contrahegemônico frente ao padrão tradicional da Cooperação Norte-Sul, operando no sentido de reiterar e fortalecer a identidade do Brasil como potência média, como líder e porta-voz dos países do Sul, o que atesta para o uso estratégico do discurso - e, portanto, da prática - da cooperação internacional para o desenvolvimento como ferramenta de inserção internacional.