HISTÓRIAS PÚBLICAS E DITADURA MILITAR: A VERDADE SEDUTORA DOS NEGACIONISTAS COMO UM PROBLEMA PARA O ENSINO DE HISTÓRIA

Abstract

Nesta dissertação, analisamos duas narrativas de grande circulação e aceitação na cena pública que negam ou justificam a ditadura militar e ainda amenizam os efeitos políticos decorrentes dos anos em que os militares estiveram no poder, visando explicar os elementos estruturantes e sedutores de versões que propõem revelar a verdade sobre um passado sensível, em função de ser um período marcado por censura, exílio, cassações, prisões, torturas, desaparecimentos e mortes. Empreendemos uma análise que, primeiro, investigou o lugar social dessas produções discursivas para, em seguida, estabelecer uma comparação de como essas narrativas se apropriam das noções de história, memória e verdade, à medida que defendem suas linhas negacionistas. Também analisamos como versões que não se preocupam com as implicações éticas de suas formulações circulam entre as culturas juvenis e de que maneira reverberam nos processos de aprendizagem histórica. Identificamos que apesar dessas narrativas se apresentarem como uma nova versão da história, como se fossem à única narrativa verdadeira, a representação do acontecimento elaborada por esses vendedores do passado reproduz e agudiza elementos já projetados pela memória negacionista dos militares e de setores da sociedade civil envolvidos na construção do acontecimento. Constatamos que as narrativas das fontes flertam com o discurso pós-verdade e fake news, com a extrema-direita e concepções conservadoras da história e, fundamentalmente, que são adversas à reflexão crítica, livre e autônoma. Desse modo, não negam toda possibilidade de verdade, o que se nega são as representações elaboradas pela historiografia e a possibilidade do dizer ético verdadeiro. Nega-se, a construção de novas compreensões do passado-presente e de novos horizontes possíveis de expectativas. Assim, o argumento central deste trabalho parte de duas premissas: a necessidade de formação inicial e continuada que possibilite aos professores da educação básica a delimitação das fronteiras que separam as narrativas negacionistas, midiáticas e abusivas das narrativas elaboradas pela historiografia profissional e a importância de compreendermos a linguagem dos memes, já que eles ensejam os elementos que estruturam essas narrativas.