Entre a memória e o esquecimento: um percurso sobre o anarquismo no Rio de Janeiro

Abstract

O presente trabalho visa apresentar um de percurso pedagógico nos espaços de memória e militância do anarquismo do início do século XX, localizados no Centro do Rio de Janeiro. O estudo privilegia o direito à utilização pedagógica da cidade e a defesa de uma concepção de ensino de história que extrapole os espaços de educação formal. Nesse sentido, propõe um percurso que engloba espaços consagrados da história sócio-política carioca, como a Rua do Ouvidor, o Largo de São Francisco, a Praça Tiradentes, a Rua da Constituição e a Praça da República. Ao longo do trabalho, visamos à valorização da trajetória de trabalhadores que ressignificaram estes espaços, produzindo um contraponto ao discurso reproduzido pelos monumentos, que demarcam a narrativa oficial de exaltação a grandes líderes, como protagonistas da formação do Estado brasileiro. Desta maneira, ressaltamos aqui o papel dos trabalhadores, que inspirados por autores e práticas anarquistas, foram capazes de elaborar movimentos de resistência ao modelo político-econômico da época, através da mobilização classista, das greves, boicotes, além da instituição de uma educação popular e redes de comunicação editorial alternativas. A aplicação do roteiro, direcionado à comunidade escolar e aos trabalhadores(as) interessados(as) em experiências classistas de diferentes temporalidades, implica a realização de atividades prévias de sensibilização e preparação, uma vez que, a aprendizagem nas cidades postula habilidades singulares. Sendo assim, apresentamos ferramentas de comunicação e propagação das ideias revolucionárias utilizadas pelos trabalhadores e militantes do começo do século XX, tais como: trechos de artigos, poemas, registros fotográficos de greves e assembleias, entre outros, que demarcam a atualidade das reivindicações dos trabalhadores do período analisado. O conjunto de atividades dirige-se a problematização de percepções naturalizadas, enraizadas em tensões presentistas, viabilizando a reflexão crítica do acúmulo de experiências de resistência e congregação da classe trabalhadora. Entre as referências da pesquisa, contamos com o conceito de pedagogia integral anarquista, comprometida com a experimentação da ajuda mútua e da ação direta, a qual dá materialidade à prática da educação integral, teorizada por estudiosos como Mikhail Bakunin e Paul Robin, os quais refletiram sobre o papel revolucionário da educação na construção da liberdade complementar. Dentre os temas caros ao roteiro, podemos destacar: autonomia, democratização do ensino e acesso à cultura e igualdade de gênero.