Entre a obrigação e o desenvolvimento de competências: o ensino de Sociologia na Rede Estadual do Município de Petrolina/PE por educadores não formados em Ciências Sociais

Abstract

Há ainda na educação dois mundos quando falamos de prática docente: o mundo oficial e o mundo real. Vemos isto no caso especifico da disciplina de Sociologia. O governo impõe que os docentes ensinem uma disciplina na qual não têm formação. É o caso dos professores da Rede Estadual em Petrolina – PE. Diante da decisão governamental, o que fazem os docentes em sala de aula para lecionarem Sociologia? Respondemos essa questão a partir de uma revisão bibliográfica - que mostra a história da profissão docente, da constituição do Ensino Médio e dos seus professores, além da trajetória da Sociologia como disciplina escolar - marcada pela intermitência no currículo. Tendo as contribuições teóricas de Irving Goffman, com sua teoria de ator, e de Maurice Tardif com suas reflexões sobre os saberes docentes, refletiu-se sobre a prática dos professores de sociologia sem formação em ciências sociais. Apresentamos, nesta dissertação, os esforços, as estratégias e a didática usada em sala de aula pelos docentes para ensinarem a disciplina, mesmo com condições adversas e com a omissão do Estado de Pernambuco não criando os recursos pedagógicos necessários, tais como formação continuada (um direito do professor) que responda aos gritos que os docentes ecoam buscando melhorar a sua prática. Estas conclusões foram possíveis porque trilhamos o caminho de uma pesquisa qualitativa, etnográfica e com as técnicas de observação participante e entrevistas narrativas, quando 8 (oito) docentes, a maioria com graduação em história, se desnudaram e narraram seu cotidiano escolar. Percebemos em cada narração e nas aulas observadas que o fazer docente se constrói por inúmeros trajetos e encruzilhadas, contribuindo para isto as experiências antes da graduação, durante a formação superior e na prática profissional, onde lidando com a dinâmica de uma sala, o docente, profissional das interações humanas, precisa se inventar e reinventar para atingir seus objetivos pedagógicos. Neste processo, os docentes produzem saberes experienciais - nas palavras de Tardif - e é o conjunto destes saberes (saberes das disciplinas, saberes profissional e saberes curriculares) que possibilitam que professores, sem formação numa disciplina, contornem as contradições da sala de aula e possam se legitimarem como docentes daquela. Por fim, há duas temáticas que precisam ser aprofundadas em trabalhos futuros: os processos envolvidos na construção dos saberes experienciais e a história da disciplina Sociologia no estado de Pernambuco. Por vários fatores, pincelamos nesta dissertação apenas algumas notas sobre estas duas temáticas, que acreditamos ser uma introdução ao debate profícuo que tais temas merecem.