Entre fronteiras: grietas para (re)existir

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Autor(es): dc.contributor.authorVaneski Filho, Ener-
Data de aceite: dc.date.accessioned2021-11-02T10:49:47Z-
Data de disponibilização: dc.date.available2021-11-02T10:49:47Z-
Data de envio: dc.date.issued2021-
Fonte completa do material: dc.identifierhttps://editorapantanal.com.br/ebooks.php?ebook_id=entre-fronteiras-grietas-para-re-existir&ebook_ano=2021&ebook_caps=0&ebook_org=0-
Fonte: dc.identifier.urihttp://educapes.capes.gov.br/handle/capes/642936-
Resumo: dc.description.abstractIniciei em 2002 um contato permanente com famílias de agricultores na condição de extensionista rural da Empresa Catarinense de Pesquisa e Extensão Rural – EPAGRI, lotado em Matos Costa, Santa Catarina, também conhecida por “região do Contestado”. 1 Nessa época eu não fazia ideia do que significavam as palavras; ideologia, Estado, Capital, ciência, tecnologia2 . Afinal, a minha subjetividade era a do camponês que ingressou em um emprego público por meio de uma formação técnica pretérita (vista como uma das poucas formas de se 'escapar' do sofrimento do trabalho duro do campo). A aprovação em um concurso público me colocava agora como profeta do desenvolvimento, em nome do Estado, nas regiões pobres e atrasadas, segundo o Banco Mundial3 . O fato curioso é que no momento da escolha de vagas para lotação para diversos municípios do estado, ao lado do nome de cada um existia uma inicial “RA”, não perguntei o que significava. Apenas depois de escolher o município fui descobrir que RA significava Reforma Agrária, sendo que até aquele momento só sabia o que a mídia falava sobre tema. E assim fui para a região e por lá fiquei seis anos trabalhando diariamente em seis assentamentos e tentando compreender um pouco mais desse universo. Esse período foi uma prévia para o que viria em seguida, pois em 2008 eu iniciaria um novo período de vida e trabalho no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA no estado do Paraná. À primeira vista foi um grande choque – sair do campo, do contato diário com os agricultores e os assentados e ir para a burocracia estatal. De início foi desesperador, pensei que seria o fim do contato com as “pessoas de carne e osso” e o início de uma vida desperdiçada em uma sala cheia de papeis. Para minha sorte apesar de diminuído drasticamente o tempo junto às comunidades rurais um novo horizonte surgiu, tive o privilégio de conhecer uma boa parte dos projetos de assentamento implantados no Paraná, suas organizações e movimentos4 . Mas ainda faltava conhecer melhor a origem, o fato gerador, o indutor de um assentamento que é o acampamento, e o acampamento surge quando pessoas decidem buscar uma vida digna e fazem quando existem certas condições sociais objetivas. Ao ingressar no mestrado, decidi que era hora de empreender um esforço organizado para buscar a compreensão dessa linguagem que é o acampamento. No Paraná existem 11 mil famílias acampadas em 140 áreas em disputa (OAR/PR, 2015), poderia ter escolhido um acampamento “normal” destes 140, mas gostaria de incluir um fator que agregaria e complexificaria a discussão, foi então que escrevi um projeto com um tema que além de envolver a questão agrária, envolveria também uma população especifica dentro da categoria “sem-terra”, um grupo que desde 1985 surgiu com uma identidade diferenciada: os brasiguaios. Desde os anos de 1990 eu sabia da existência de um movimento de agricultores brasileiros em direção ao Paraguai, o que não sabia era o seu retorno, e em 2009 durante o trabalho de campo para realizar o Plano de Desenvolvimento do Assentamento (PDA), no então recém-criado assentamento Milton Santos, muito famílias relatavam terem vivido anos no Paraguai e terem retornado ao Brasil para se incorporarem a luta por reforma, tendo vivido anos em acampamentos e agora estavam oficialmente assentados, agora eram beneficiários5 . Em 2010 as notícias veiculadas na mídia, principalmente uma matéria exibida no programa globo rural, davam conta de um quadro “dramático” dessas populações. Parecia-me que ali existia um caso a ser pesquisado sob a ótica da resistência camponesa6 . Para o estudo do caso, buscamos no primeiro capítulo compreender a formação histórico-social do campesinato latino-americano, concluindo com elementos que ajudam a pensar a situação agrária no continente, em especial no Brasil e no Paraguai. Para isso, iniciamos um percurso desde a formação, os enfoques que se deram ao tratar do campo e suas populações, passando pela desvalorização camponesa, a modernização conservadora da agricultura brasileira, a estrangeirização das terras paraguaias até a construção da usina de Itaipu, que modificou a estrutura agrária da região. O segundo capítulo busca situar os momentos de entrada dos brasileiros no Paraguai, o contexto onde isso aconteceu e os impactos. Nele também situamos a reabertura democrática do Brasil, com o lançamento do primeiro plano de reforma agrária que faria com que muitos brasileiros iniciassem o movimento de retorno. Nessa época surgem as ocupações de terras, se diferenciando das invasões que ocorreram antes de 1964. As ocupações, enquanto forma acampamento (Sigaud, 2000) como linguagem de interlocução com o Estado, é o cenário para surgimento do termo brasiguaio que dá forma a um sujeito entre fronteiras. A pesquisa para escrever os dois primeiros capítulos, mais as orientações recebidas, mostrou-me a necessidade de realizar trabalhos de campo na região Sul do estado do Mato Grosso do Sul, afinal ali, além do surgimento do termo, também é o lugar onde ocorreram e ocorrem as mobilizações onde a identidade de brasiguaios é adotada com maior ênfase. Para tanto, conhecer e entrevistar pessoas no município de Novo Horizonte do Sul, que é resultado da emancipação política do projeto de assentamento Novo Horizonte, antiga gleba Santa Idalina, invadida em 1984, tendo sofrido o despejo no mesmo ano e em 1985 ocupada pelos brasiguaios, ajudou a recuperar o surgimento do termo. Dessa maneira segui como estratégia metodológica e espacial da pesquisa o Mato Grosso do Sul. Uma vez que se tivesse focado em acampamentos do Paraná, conforme o cronograma inicial, teria sido muito difícil realizar a pesquisa como estudante e não ser associado diretamente a esse papel social que cumpro atualmente no estado do Paraná como servidor do INCRA. Assim, os contatos e a continuidade da pesquisa no acampamento Antonio Irmão Brasiguaio, no município de Itaquiraí, foram um passo natural para entender a atualidade da questão. Observamos que a situação dos brasiguaios sem-terra ainda não contempla uma solução: durante os trabalhos de campo na região, um novo acampamento surgiu, justo na linha de fronteira, e nele o discurso novamente da identidade brasiguaia está presente. Assim a espiral das ocupações (Loera, 2006), também no caso dos brasiguaios, se mostra uma realidade de lutas, nas grietas onde os despossuídos, teimosamente resistem.pt_BR
Tipo de arquivo: dc.format.mimetypepdfpt_BR
Idioma: dc.language.isopt_BRpt_BR
Direitos: dc.rightsAttribution-NonCommercial 3.0 Brazil*
Licença: dc.rights.urihttp://creativecommons.org/licenses/by-nc/3.0/br/*
Palavras-chave: dc.subject1. Agronegócio. 2. Reforma agráriapt_BR
Título: dc.titleEntre fronteiras: grietas para (re)existirpt_BR
Tipo de arquivo: dc.typelivro digitalpt_BR
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