Onde todos podem ver o mar

Abstract

O presente trabalho parte do princípio de que é muito importante que, durante o processo de formação acadêmica, licenciandos sejam expostos a situações que permitam discutir e aplicar estratégias voltadas para a educação inclusiva. Assim, desenvolvemos, aplicamos e avaliamos metodologia de ensino inclusivo que buscou integrar licenciandos em Ciências Biológicas e colaboradores deficientes visuais durante trabalho de campo para estudo e reconhecimento de organismos marinhos coletados em uma praia urbana. Como atividade deflagradora, foi realizada uma dinâmica para descontrair todos os participantes. Em seguida, de olhos fechados, licenciandos manipularam e exploraram as características dos organismos marinhos previamente coletados. Ainda de olhos fechados, eles construíram um modelo tridimensional dos organismos observados. Os colaboradores deficientes visuais também manipularam e realizaram leitura tátil dos organismos marinhos, descrevendo-os para os licenciandos que novamente de olhos fechados confeccionaram um segundo modelo com base nas características descritas pelos deficientes visuais, para efeitos de comparação. Ao final, foi realizada uma roda de discussão que buscou sistematizar e avaliar criticamente as experiências vivenciadas e o conhecimento adquirido pela prática inclusiva. Foram aplicados dois questionários para avaliar percepções de licenciandos relativas a práticas inclusivas, em geral, e relativas à metodologia desenvolvida de ensino inclusivo, em particular, antes e após o trabalho de campo. Os resultados nos permitem concluir que o simples fato de aproximar videntes e deficientes visuais ao ar livre, em condições lúdicas de aprendizagem, possibilitou mudanças positivas de percepções dos licenciandos sobre habilidades e potencialidades dos deficientes visuais. Concluímos, também, que a metodologia desenvolvida, e registrada em vídeo como produto final de mestrado profissional, tem potencial como metodologia alternativa de ensino que privilegia o conjunto dos sentidos e a troca de experiências para a promoção da inclusão de pessoas deficientes visuais. Particularmente, tal potencial se amplia na medida em que a metodologia desenvolvida se aplica à formação de licenciandos em Ciências Biológicas, futuros professores que, certamente, serão convocados em suas vidas profissionais a lidar com o desafio permanente da inclusão no ensino.