AUTOMUTILAÇÃO ENTRE ADOLESCENTES: uma análise sociológica no ambiente escolar e o caso Girassol

Abstract

A presente pesquisa é o resultado de uma imersão no universo escolar rural que buscou compreender o fenômeno de automutilação entre os estudantes. Embora a literatura que tem sido produzida atualmente seja predominantemente da área da saúde, incluindo a psicologia, buscamos investigar este fenômeno dialogando diretamente com uma abordagem sociológica. Assim, trata-se de uma dissertação que investiga elementos simbólicos ou sociais na prática autolesiva, observando os efeitos psíquicos daí decorrentes. O propósito visado é, portanto, analisar quais fatores sociais estão em jogo na vida dos adolescentes e jovens e como eles compreendem as relações entre tais fatores e a prática de automutilação. Para chegar a este propósito, lançamos mão de instrumentos metodológicos que incluíram questionários, depoimentos e registros escritos. Participaram da pesquisa 5 professores e 87 alunos, estudantes do 8º ano, 9º ano e Ensino Médio. A pesquisa construiu uma compreensão de como os professores e estudantes percebem os fatores motivadores da prática da autolesão, quais os elementos sociais e simbólicos que estão em jogo e como percebem o papel da escola. Além da investigação no universo escolar, foi acompanhado em profundidade um sujeito egresso da escola, praticante de automutilação, para o qual se lançou mão de um estudo de caso, com entrevistas, diário de bordo e entrevistas semiestruturadas. Verificamos que os elementos sociais, o bullying, abusos familiares, violência sexual, questões econômicas, falta de enquadramento social, devem se somar aos fatores psicológicos e muitas vezes podem ser compreendidos como causas de sofrimento psíquico. Os esforços da pesquisa caminharam no sentido de contribuir para a compreensão deste fenômeno complexo que exige contribuições de diversas áreas. Embora não seja possível abranger em profundamente as relações entre os fatores sociais e as questões psíquicas, o estudo apontou para a indissociável relação entre os fenômenos simbólicos e as questões psíquicas.