Uma Presença Ausente: Amor e Família para os Adolescentes Acolhidos

Abstract

Geralmente quando incita-se o debate sobre família e amor, os dois acabam sendo vistos e expressos sob um viés idílico, romântico e paradisíaco, são percebidos nessa sociedade como um par correlato, elementos que encontram-se imbricados na visão de muitos sujeitos, tidos como interdependentes e basilares em muitas relações; todavia permeados por contradições e idealizações. Pressupomos, no âmbito deste trabalho, que os adolescentes acolhidos vivenciam esses elementos de maneira particular. Nesse sentido, este trabalho busca analisar a percepção de família, das relações construídas nesse espaço e do amor presente ou não em seu interior, por meio das percepções e discursos dos adolescentes acolhidos na Casa de Passagem Nossa Gente em Mossoró-RN. Como objetivos específicos visou-se: 1) Tecer o perfil dos adolescentes acolhidos bem como os determinantes para o afastamento de suas famílias; 2) Apreender o significado da família e relações familiares para esses meninos e meninas acolhidos institucionalmente e; 3) Investigar como os adolescentes acolhidos compreendem a presença/ausência do amor no âmbito familiar. Partindo de nossos objetivos, realizamos um levantamento bibliográfico, relativo à temática abordada, concernente às categorias de família e amor familiar, tendo como principais referências: Lessa (2012); Giddens (2000; 2005); Segalen (1999); Dantas (2014); Sarti (1999; 2003; 2005); Santos (2007); Trindade (2010) D’Incao (1989; 2013; 2015), Costa (1998), Del Priore (2005, 2009), Badinter (1985; 2011); Russo (2006; 2011); Snyders (1984), Ariès (2006); Rizzini e Rizzini (2004), dentre outros. Com essas apreensões, materializamos uma pesquisa participante na instituição mencionada, por meio efetivação da observação participante, cujos dados foram registrados em diário de campo. Também realizamos cinco entrevistas semiestruturas e três oficinas com os adolescentes acolhidos no momento da pesquisa. Destarte, percebemos que esses sujeitos são oriundos de famílias pobres, possuem baixa ou nenhuma escolaridade e os motivos de acolhimento envolvem múltiplos determinantes. Por meio da leitura dos depoimentos, as relações familiares, em sua maioria são, perpassadas por incontáveis violações de direitos, pela coisificação e objetificação de sujeitos que acabam acorrentados em um elo de dominação que machuca, oprime e, em muitos casos, não deixa espaço para instauração do amor familiar, elemento tido socialmente como inerente às famílias. Nas falas dos adolescentes, a instituição familiar é vislumbrada de maneira positiva, incólume, sem conflitos, desigualdades ou discordâncias e, em relação ao amor, para assim o ser, deve estar em coesão com atitudes de cuidado, carinho e atenção, bem como o ideário de que na família encontra-se o verdadeiro amor. Destarte, de maneira geral, percebeu-se que a família e o amor, idealizados pelos adolescentes acolhidos, se distanciam dos sujeitos de “carne e osso “, estão destoantes em relação as suas experiências concretas e acabam sinalizando vivências de vazios em relação a esses elementos.