A HISTÓRIA MUDA: O USO DE IMAGENS NO ENSINO DE HISTÓRIA PARA SURDOS

Abstract

O trabalho apresenta sequências didáticas que priorizaram o uso de imagens no ensino da história como meio de potencializar a inclusão e a integração entre alunos surdos e ouvintes. O ensino da história – e demais disciplinas – é realizado por uma educação centrada no letramento e na oralidade, o que, mais do que integrar, acentua que se compreenda o aluno surdo como deficiente, excluindo-o do processo educacional. Ao privilegiar a utilização de fontes visuais no ensino da história abre-se a possibilidade de se subverter essa lógica e redimensionar o processo do ensino-aprendizagem centrado na palavra por meio de um elemento comum aos dois públicos: a cultura visual. Buscou-se uma prática didática que partisse da diferença, e não da deficiência, para suscitar o debate histórico. Eis a premissa dessa pesquisa. Como linguagens e culturas diferentes podem potencializar (ou não) a investigação e a interpretação histórica? Como se processa a percepção (e compreensão histórica) das imagens por alunos surdos e por alunos ouvintes? Existe diferença no modo pelo qual cada um desses grupos capta e interpreta as imagens? Os surdos têm maior acuidade sensorial (cognitiva) para apreender detalhes e realizar sínteses visuais do que os ouvintes? Uma suposta maior proximidade dos surdos com a cultura visual os qualificaria a uma melhor compreensão histórica por meio da imagem? Para tanto, recorreu-se ao método empírico e comparativo entre alunos surdos e ouvintes. A partir do estudo de caso, foram confeccionadas sequências didáticas nas quais o uso de fontes visuais pudesse ampliar a capacidade de ensino e de integração entre alunos. As propostas das sequências didáticas foram aplicadas a diferentes grupos (alunos surdos e ouvintes do ensino médio, alunos universitários e também professores), com distintos objetivos a partir de conteúdos programáticos consagrados em livros didáticos de história. Procurou-se promover a historicidade das imagens como elemento de “leitura de mundo” comum a surdos e ouvintes sem, com isso, idealizar as imagens como obra de arte, como objetos puros e absolutos; nem tampouco reduzi-las à condição de mero documento histórico. Da prática e verificação empírica garantiu-se, ainda, o estado das artes sobre educação e cultura surda, bem como do ensino de história por meio de imagens no campo da cultura visual. Do diálogo entre a prática pedagógica e a reflexão teórica, as premissas e expectativas iniciais foram frustradas e redimensionadas pela impossibilidade de se universalizar o processo educacional. Como resultado, a compreensão da educação do “povo surdo” foi redimensionada em conjunto com o ensino e a aprendizagem histórica a partir de experiências individuais únicas.