ENSINO-SERVIÇO E SALA DE ESPERA NO AMBULATÓRIO SETTE DE BARROS, EM PONTE NOVA, MINAS GERAIS

Abstract

O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma política pública, onde se integram outras políticas públicas, como a Política Nacional de Educação Popular em Saúde (PNEPS) de 2013, que valoriza uma postura do médico para com as práticas populares de saúde, dotada de respeito e diálogo, e apreciando as condições que reproduzem uma estruturação de compreensões que se agregaram pela convivência entre seres humanos, ao longo do tempo, com ênfase à integralidade do cuidado, conforme consta nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Graduação em Medicina de 2014, as quais normatizam o perfil do egresso médico, ao considerar o ensino-serviço direcionado pelos três principais eixos: (i) Atenção à Saúde; (ii) Gestão em Saúde; (iii) Educação em saúde. Dessa forma, o objetivo do presente trabalho foi pesquisar na sala de espera do Ambulatório Sette de Barros (ASB), as temáticas em saúde que os usuários têm maior interesse de debater em rodas de conversa e, avaliar a percepção obtida a respeito do debate. O trabalho foi dividido em duas etapas, ambas realizadas no ASB, na cidade de Ponte Nova, MG e, contou com a participação de graduandos em Medicina da Faculdade Dinâmica do Vale do Piranga - FADIP, que realizam atividades práticas no serviço de saúde referido. Na primeira etapa, realizada em outubro e novembro/2018, aplicou-se um questionário para 378 usuários do ASB, investigando se estes tinham interesse em participar de uma roda de conversa, enquanto esperavam por uma consulta e qual seria a temática em saúde que gostariam de debater. Na segunda etapa, após escolha do assunto pelos entrevistados, realizou-se as rodas de conversa, tempo médio de 15 minutos, em março e abril/2019, com posterior aplicação de um segundo questionário aos 60 clientes do ASB, que participaram da discussão, verificando a satisfação destes quanto ao método e ao entendimento do assunto abordado, no momento dialógico, na qual foi utilizada uma cartilha e a pedagogia socioconstrutivista recomendada por Paulo Freire, na contramão do biopoder, criticado por Michael Foucault. A avaliação dos dados foi feita a partir da utilização do software Epi Info versão 3.5.1. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da FADIP, número do parecer 2.925.286. A análise do primeiro questionário demonstrou que, das 378 pessoas entrevistadas, 301 acreditam que o momento em que esperam por atendimento, na sala de espera, é apropriado para que ocorram rodas de conversa. Além disso, 292 pessoas elegeram a opção “depressão”, para ser debatida na oportunidade de educação em saúde. Na segunda etapa, a totalidade dos participantes referiram que o momento dialógico foi agradável e que apresentou contribuições para o autocuidado em saúde, com 47 pessoas informando que suas dúvidas, relacionadas ao tema, foram totalmente esclarecidas. Os aspectos positivos apontados para as rodas de conversa foram: fácil entendimento (56); troca de experiências (22); respeito (13). Conclui-se que as rodas de conversa ocasionaram satisfação dos usuários dos serviços de saúde disponibilizados pelo ASB, que integraram o momento de debate e possibilitaram maior autonomia intelectual da clientela diante das características clínicas da depressão, dando ênfase ao controle social dos cidadãos nas ações do SUS. Ademais, a pesquisa contribuiu para demonstrar a integração ensino – serviço – gestão – comunidade, sob a perspectiva de diferentes contextos e práticas educativas.