Por identidade e pertença: processos de autorreconhecimento e afirmação da identidade negra entre estudantes da Escola José Alves de Figueiredo Crato-CE (2011-2018)

Abstract

Este trabalho teve como objetivo principal analisar processos de reconhecimento e afirmação da identidade negra, entre estudantes da Escola de Ensino Médio José Alves de Figueiredo, no município de Crato - CE. Primordialmente buscou-se compreender a partir de quais experiências, referências e discursos, os estudantes foram sendo enquadrados e mobilizaram-se para seus processos de autorreconhecimento e afirmação subjetivas. Discute, a partir de referências bibliográficas, o processo de ressignificação positiva do termo negro no Brasil e as lutas por inserção socioeducacional da população negra brasileira. Apresenta narrativas de enquadramento social de estudantes negros da referida escola. Enfatiza processos de empoderamento e autoafirmação. Secundariamente, esta escrita também apresenta experiências de reconhecimento , a partir da formação profissional cotidiana, da importância do exercício de práticas pedagógicas antirracistas, no espaço escolar, como estratégia de reflexão e transformação dos modos de atuação pedagógica da escola e de seus docentes . A metodologia adotada foi a da pesquisa qualitativa, tendo sido a realização de entrevistas livres semiestruturadas a partir de três questões: Quais são as primeiras memórias acionadas pelos estudantes nos seus processos de reconhecimento, enquanto pessoas negras? Quais outros lugares e saberes para além dos escolares influíram em seus processos de reconhecimento? Como as aulas e os conteúdos da disciplina de história e as experiências escolares mais recentes têm influído em seus processos identitários? Apresenta a trajetória de seis estudantes, três meninas e três meninos, relatos da infância até o momento presente, procurando identificar com quais conflitos e problemáticas tiveram que se deparar, até assumirem a identidade negra, com sensação de pertencimento e não apenas enquadramento por olhos alheios. Enfatizando a intersecção de experiências e saberes que os levaram a tal atitude, e a contribuição de práticas escolares para isso. Buscando compreensão sobre estes processos, a escrita dialoga principalmente com pensadores da decolonialidade, ou, críticos pós-coloniais:Mignolo(2010), Quijano(2005), Hall(2010), Silva(2002),Sodré(2015). O trabalho denuncia a persistência do racismo e da colonialidade do saber e do ser, e apresenta possibilidades de atuação, a partir do espaço escolar que, ao refletir nos sujeitos que o compõem, atingem também outros espaços sociais, uma vez que as reflexões que provocam não se encerram nele, mas refletem também em outros espaços onde os sujeitos circulam, fortalecendo processos de ressignificação positiva da negritude e quebra de padrões que mantêm o racismo e as superficialidades de entendimentos sobre ele.