Consumo excessivo de pornografia digital e saúde psíquica do homem contemporâneo: Aproximações entre psicanálise e neurociência

Abstract

O acesso amplificado à pornografia digital, intensificado pela cultura do streaming e pelas dinâmicas de hiperconectividade próprias da sociedade contemporânea, tem suscitado questionamentos relevantes acerca de seus efeitos na saúde psíquica, sexual e relacional de homens adultos. Este artigo tem por finalidade examinar, sob a perspectiva articulada da psicanálise e das neurociências contemporâneas, os impactos do consumo excessivo de pornografia sobre a subjetividade masculina, com especial atenção a manifestações como compulsividade, sofrimento psíquico, disfunções sexuais e comprometimentos vinculares.

Metodologicamente, trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada nas bases PubMed, SciELO, PsycINFO, PePSIC e Google Scholar, contemplando estudos publicados entre 2014 e 2025, em português, inglês e espanhol. O marco teórico mobilizado integra conceitos fundamentais da psicanálise clássica — como as formulações freudianas acerca da sexualidade, das pulsões e de suas vicissitudes — e aportes winnicottianos relativos ao mundo interno, ao uso de objetos e à constituição do self, articulados a pesquisas contemporâneas sobre o Transtorno de Comportamento Sexual Compulsivo (CSBD) e sobre o uso problemático de pornografia.

Os achados indicam que o consumo reiterado e intensificado de pornografia está associado a alterações neurobiológicas nos circuitos de recompensa, aumento progressivo de tolerância a estímulos sexuais, dificuldades no controle inibitório de impulsos, além de maior prevalência de sintomas ansioso-depressivos e disfunções sexuais, especialmente entre homens jovens. No plano subjetivo e intersubjetivo, observa-se a emergência de sentimentos de culpa, vergonha e isolamento, frequentemente modulados por referenciais morais e religiosos, o que contribui para a complexificação do quadro clínico e para a intensificação do sofrimento psíquico.

Conclui-se que o fenômeno requer compreensão em uma perspectiva biopsicossocial e subjetiva, demandando interlocução rigorosa entre psicanálise, psiquiatria, neurociências e políticas públicas de educação sexual e saúde mental. Intervenções eficazes devem contemplar tanto o manejo da compulsividade e da desregulação do comportamento sexual quanto as dimensões relacionais, simbólicas e existenciais envolvidas na constituição do sofrimento masculino associado ao uso problemático de pornografia.