Práticas Agroecológicas e Ensino de Matemática

Abstract

Recebi com grande entusiasmo o convite para escrever este prefácio, que representa um momento importante na trajetória da Talita e de seu orientador, Francisco Wagner. É uma honra poder acompanhar o desenvolvimento de um estudo relevante, que envolve áreas diversas e que se conectam de forma brilhante nesta pesquisa, iniciada ainda na graduação, mas que retrata uma realidade de décadas, ou mesmo de séculos atrás. O livro “Práticas Agroecológicas e Ensino de Matemática” nos convida a repensar o ensino de matemática a partir de um olhar mais humano, considerando temas relevantes para um grupo cultural muitas vezes invisibilizado. Talita e Francisco trazem a Agroecologia no contexto do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) de maneira sensível e bem fundamentada, destacando sua relação com a educação matemática por meio de abordagens que vêm ganhando espaço nas pesquisas, ao proporem a conexão entre os saberes e fazeres dos estudantes e os conhecimentos escolares e acadêmicos. Para os autores, o Programa Etnomatemática permite compreender os distintos modos de produzir matemática nos diversos grupos culturais, possibilitando uma ação pedagógica decolonial e respeitosa às diferenças culturais. Nesse sentido, é apresentado o contexto social no qual a investigação se realiza: o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e o acampamento Zé Maria do Tomé, no Ceará. Cabe destacar que esse acampamento surgiu a partir das lutas do MST e hoje desenvolve práticas agroecológicas ricas em conhecimentos e experiências matemáticas. A agroecologia está bem articulada ao referencial teórico, ao valorizar os saberes e fazeres tradicionais dos agricultores que vivem nos acampamentos. Ainda com o propósito de reconhecer esses conhecimentos no ambiente escolar, os autores conectam essa temática com a Educação do Campo, modalidade de ensino que mantém uma relação estreita com o MST e com os objetivos da pesquisa aqui apresentada. Diante de tudo o que será explorado neste livro, percebo que as possibilidades de pensar o ensino de matemática sob uma perspectiva etnomatemática estão apenas começando, dada a riqueza de saberes e fazeres que se manifesta do início ao fim da investigação. Além disso, ao refletirem sobre as possibilidades de inclusão em sala de aula, os autores contribuem de maneira significativa para a valorização do grupo cultural estudado, ao proporem a incorporação dos conhecimentos locais nas atividades escolares cotidianas, de forma respeitosa e significativa. Enfim, este livro tem grande importância para a consolidação dos objetivos da pesquisa apresentada e pode servir como ponto de partida para o desenvolvimento de ações pedagógicas fundamentadas na Etnomatemática, alinhadas à realidade dos sujeitos envolvidos. Desejo que esta obra inspire novas produções no Ceará, no Nordeste e em todos os cantos do mundo.

- Excelente leitura a todos. - Luciano de Santana Rodrigues