A Pedagogia da Mironga do Mestre Griô Dilermando Freitas: Por Entre o Encanto e o Segredo

Abstract

Este artigo apresenta um recorte da proposta da Pedagogia da Mironga, desenvolvida pelo Mestre Griô Dilermando Freitas, articulando encanto e segredo. A experiência, realizada no âmbito do Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Narrativa, Arte, Linguagem e Subjetividade (GIPNALS) e do Programa de Educação Tutorial Fronteiras: Saberes e Práticas Populares (PET Fronteiras), é tomada como perspectiva de aproximação e reflexão acerca de saberes que tensionam as fronteiras entre universidade e comunidade, ciência e práticas populares. O trabalho apoia-se nos percursos, reflexões e desafios empreendidos pelos grupos ao longo de vinte anos, fundamentando-se na etnografia surrealista (CLIFFORD, 2002), reelaborada como “surrealização” da escrita de pesquisa (BUSSOLETTI, 2007), e nos projetos do PET Fronteiras, que buscam estabelecer conexões entre saberes populares e a universidade, promovendo o intercâmbio de conhecimentos e reduzindo hierarquias que, historicamente, conferem poder superior às produções acadêmicas. A investigação insere-se na perspectiva das epistemologias não coloniais, dialogando com autores como Walter Benjamin, Nego Bispo, Luiz Rufino e Luiz Antônio Simas e, de forma central, com a experiência narrativa dos Mestres da Cultura, representada na prática do Mestre Griô Dilermando Freitas. O fio condutor entre os trabalhos de ensino, pesquisa e extensão e o trabalho do Mestre Dilermando é a luta acadêmica e política contra o empobrecimento da experiência narrativa, tal como instaurada pela modernidade capitalista. A partir da proposta do Mestre Griô, o artigo referencia a importância dos saberes da mironga, reconhecendo sua dimensão de segredo e sua potência de encantamento.