Uma proposta pedagógica para o ensino de Sociologia: contribuições para a formação cidadã de adolescentes privadas de liberdade em Pernambuco

Abstract

Este trabalho de pesquisa versa sobre a escolarização de adolescentes e jovens do sexo feminino em um ambiente de privação de liberdade, no Estado de Pernambuco, no sentido de contribuir para a elaboração de uma Proposta Pedagógica no âmbito de uma Sociologia Crítica. Nossa problematização teve origem com o estranhamento causado pelo relacionamento dessas estudantes com o ambiente educacional, que pode ser sintetizada numa afirmação recorrente delas: “Oia mulé, só vim pra essa escola pra não ficar de tranca”. Com essa questão em mente, nosso objetivo geral é elaborar uma Proposta Pedagógica de uma Sociologia Crítica, utilizando o protagonismo juvenil e a participação da comunidade escolar sem nos desvencilharmos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e que contribua para a formação cidadã de adolescentes e jovens em privação de liberdade. Seguimos o caminho metodológico com a pesquisa exploratória, que amparada nas grandes teorias explica ou interpreta fenômenos específicos (Minayo, 2008). O convívio com os sujeitos dessa pesquisa possibilitou a observação participante e a etnografia baseadas em Amado (2017) e André (2005),sendo norteada pela pesquisa bibliográfica. Para a coleta de dados, decidimos pelo questionário aberto, assim, os dados estatísticos obtidos serviram de base para uma análise qualitativa, nesse sentido temos uma abordagem qualiquantitativa. Iniciamos com um histórico sobre os nossos primeiros contatos com essas estudantes, o qual justifica este trabalho. Em seguida trazemos a legislação federal e estadual que tratam da garantia dos direitos a educação de adolescentes e jovens em conflito com a lei. Sobre o currículo, apresentamos Arroyo (2013) quando coloca que o tempo de escolarização será para os estudantes o momento de confronto entre como se pensam e como são pensados nos saberes curriculares. Trazemos Silva (2005) com a sua definição sobre a teoria crítica cujas ideias se coadunam com o que acreditamos ser o ideal para a Proposta Pedagógica, pois preconiza a produção cultural, social e autônoma. Nos identificamos com os pensamentos de Freire quando defende a educação como prática de liberdade e como uma relação dialógica. E para embasar a sociologia crítica buscamos Apple (2006). A partir desses estudos identificamos quatro categorias: identidade, cultura, cidadania e autonomia como temas geradores.Traçamos o perfil das estudantes, o qual nos mostrou entre outras coisas que: grande número delas durante a infância conviveu com mais de um ente familiar; o ato infracional mais praticado é o roubo; a idade de maior conflito com a lei é entre 16 e 18 anos de idade; a época de maior abandono da escola é na conclusão do ensino fundamental nos anos iniciais. De posse desses e de outros dados elaboramos a Proposta Pedagógica de uma Sociologia Crítica embasada na voz das estudantes, nos círculos de cultura de Freire (1987) e na BNCC. Assim, concluimos que o currículo para o CASE, não necessita de novos conteúdos, mas de conteúdos relacionados à realidade social e cultural na qual as estudantes estão inseridas através de metodologias problematizadoras, dinâmicas e interativas.