MEMORIAIS E CASOS DE ENSINO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES(AS) DE MATEMÁTICA: EXPERIÊNCIAS NO CENTRO-SUL CEARENSE

Abstract

Com suas proposições teórico-metodológicas, a Educação Matemática vem promovendo inovações no ensino-aprendizagem de Matemática a fim de qualificar a formação dos cidadãos. Tais mudanças e inovações, com efeito, começam na formação docente, pois qualquer nova prática educativa requer uma formação que a embase e sustente. Assim, vemos nos últimos anos – até mesmo nas últimas décadas – iniciativas inovadoras na formação inicial em Matemática, considerando esse espaço como propício para novas práticas que ressignifiquem a formação para o ensino de Matemática. Soma-se a isso a latente necessidade, evidenciada pela literatura especializada ao longo do tempo, de um novo olhar a esse profissional e sua qualificação. Olhar esse que desloque o foco do viés tecnicista, transmissivo e algorítmico, comum nas formações em Matemática, para outros que considerem a subjetividade dos sujeitos que fazem – ensinam e aprendem – Matemática, considerando que os futuros professores carregam consigo crenças e concepções que moldam sua forma de enxergar essa área do conhecimento e as formas de aprendê-la. Desse modo, valorizando a subjetividade na formação para a docência, que, independentemente da área de ensino, conserva caráter humanista – visto ser a Educação uma ciência humana – surgem outras práticas formativas no contexto das licenciaturas. Nesta obra chamamos atenção para duas, que, pedagógica e estrategicamente desenvolvidas, podem potencializar os espaços de manifestação do sujeito em sua inteireza e de mobilização do pensamento crítico e reflexivo: os memoriais e os casos de ensino. Por certo, podem ser considerados gêneros textuais acadêmicos, mas, além disso, práticas de formação e de aprendizagem profissional, ambas possuindo adesão à escrita por parte dos discentes. Uma escrita marcada pela reflexão sobre uma vivência de ensino-aprendizagem e/ou sobre si, enquanto sujeito aprendente, na perspectiva de que quem aprende tem muito a ensinar, e de que o conhecimento não apenas vem “de fora”, mas pode ser mobilizado a partir do que carregamos “dentro”. O primeiro desses, o memorial formativo, volta-se para a compreensão das trajetórias percorridas e aquelas ainda por percorrer. Trata-se da escrita dos sujeitos, cenários e condições que conecta(ra)m o indivíduo à docência (em Matemática) e as possibilidades que se apresentam. Ideal para ver mobilizada a identidade profissional docente que se faz e refaz na itinerância da vida, alinhavada aos fios da formação e da profissão. Pode parecer algo distante da formação em Matemática, que se espera rígida, reta e objetiva, mas está mais próximo do percurso de quem se torna professor(a) do que se imagina, mostrando-se fecunda no intuito de formar professores cada vez mais conscientes de si e do mundo. O segundo gênero textual – caso de ensino – dedica-se, nesta obra, à reflexão do fenômeno que se tornará comum na vida profissional do docente: a aula. Em geral, a formação centra-se no conteúdo a ser ensinado ou, quando muito, nas formas de se fazer isso, sem privilegiar o fenômeno aula em si; elemento vivo, dinâmico e permeado por atravessamentos entre a tríade, professor, aluno e conhecimento. Ao mirar os casos de ensino no fenômeno aula, em suas complexidades, desperta no estudante, futuro(a) professor(a), mais questões do que respostas – numa perspectiva que defendia Paulo Freire ao advogar por uma escola da pergunta – e, de igual maneira, um desejo de conhecer mais, de refletir sobre as possibilidades do fazer docente. A presente obra nasce de reflexões e práticas de formação de professores de Matemática no Centro-Sul cearense, mais especificamente na Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu (FECLI), campus da Universidade Estadual do Ceará (UECE) nessa cidade. É, ainda mais, uma provocação de três formadores – que assinam esta apresentação – a seus alunos, os quais, mesmo com a formação inicial bem encaminhada, tiveram pouco ou nenhum contato com a escrita nos moldes aqui trabalhados. Pode-se até dizer que boa parte desses alunos sequer possuíam intimidade com o hábito de ler e escrever, marca de tantos que escolhem a Matemática como caminho profissional, muitas vezes para fugir das “letras”. De maneira específica, a primeira parte deste e-book trata sobre os memoriais. Apresenta uma reflexão teórica, promovida pelo professor Carlos Ian Melo, sobre esse gênero textual e sua potencialidade na formação de novos docentes que ensinarão Matemática, seguida de memoriais de estudantes do final do curso. Tais memoriais foram elaborados no contexto do último estágio supervisionado cursado pelos acadêmicos de Matemática, motivo pelo qual estão entranhados de reflexões sobre toda a trajetória que os conduziu ao momento formativo em que se encontravam: no limiar de seu ingresso na vida profissional. A segunda parte, por sua vez, aborda os casos de ensino na formação inicial de futuros professores de Matemática, em dois contextos distintos. Após uma elaboração teórica das professoras Jeanne D’arc de Oliveira Passos e Gleice Rodrigues, constam casos de ensino elaborados pelos estudantes das disciplinas de Didática Geral, cursada no segundo semestre da licenciatura em Matemática da instituição mencionada, e de Estágio Supervisionado I no Ensino Médio, do oitavo semestre. Mostra-se, assim, a versatilidade dessa ferramenta formativa, que amplia suas potencialidades junto ao amadurecimento dos sujeitos em formação. Nosso intuito, com esta obra, é defender e difundir a importância dos memoriais formativos e casos de ensino na formação docente em Matemática, como ferramentas e práticas que ampliam o espaço de trabalho com a subjetividade docente; valorizar e divulgar a produção escrita dos nossos estudantes, testemunhando sua capacidade como produtores de conhecimento e professores em formação que não apenas “absorvem”, mas multiplicam e ressignificam tal conhecimento em sua própria jornada; e incentivar os pares a desenvolverem atividades semelhantes, que estimulem a escrita e a reflexão, bem como a divulgação científica.