Capítulo 12: Avaliação que Educa: superando o paradigma da nota

Autores

Lívia Barbosa Pacheco Souza
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
https://orcid.org/0000-0002-3148-5536
Juliana Santos do Carmo
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
https://orcid.org/0000-0002-0458-8847

Sinopse

A avaliação escolar tem sido historicamente compreendida como um instrumento destinado a quantificar o desempenho dos estudantes, atribuindo-lhes notas que, supostamente, representam a extensão da aprendizagem alcançada. Contudo, esse modelo tradicional, centrado na mensuração e frequentemente associado à lógica punitiva ou classificatória, tem se mostrado limitado diante das demandas contemporâneas da educação. No contexto atual, marcado por transformações sociais, científicas e tecnológicas, cresce o reconhecimento de que a avaliação precisa assumir um papel formativo, capaz de orientar o processo de ensino e aprendizagem de maneira mais humana, reflexiva e emancipadora. É nesse cenário que emerge o conceito de Avaliação que Educa, uma abordagem que busca ressignificar a prática avaliativa, afastando-se do paradigma da nota e aproximando-se de uma perspectiva que compreende o estudante como sujeito ativo e protagonista de seu próprio desenvolvimento. 

A Avaliação que Educa propõe romper com práticas avaliativas que apenas verificam resultados finais, substituindo-as por processos contínuos de acompanhamento e intervenção pedagógica. Trata-se de um movimento que desloca o foco de julgamentos somativos e comparativos para uma avaliação que apoia, orienta e transforma. Em vez de reforçar desigualdades, essa abordagem busca promover equidade, reconhecendo a singularidade dos ritmos, trajetórias e modos de aprender dos estudantes. Ao superar o paradigma da nota, a avaliação deixa de ser um fim em si mesma e passa a ser um recurso para compreender dificuldades, valorizar progressos e planejar ações que ampliem as possibilidades de aprendizagem. 

Além disso, a Avaliação que Educa parte do princípio de que ensinar e avaliar constituem dimensões inseparáveis da prática pedagógica. Diferentemente do modelo tradicional que posiciona a avaliação como etapa final de um ciclo, a proposta formativa considera que avaliar é um ato permanente, construído durante todo o processo de ensino. Nessa perspectiva, a avaliação oferece informações que retroalimentam o trabalho do professor, permitindo ajustar metodologias, reorganizar conteúdos e diversificar estratégias didáticas. Da mesma forma, fornece ao estudante instrumentos para compreender seus próprios avanços, reconhecer dificuldades e desenvolver autonomia. Assim, a avaliação deixa de ser um mecanismo de controle e torna-se um espaço de diálogo, reflexão e construção conjunta do conhecimento. 

Outro aspecto fundamental da Avaliação que Educa é a valorização da dimensão qualitativa. Enquanto o paradigma da nota reduz a aprendizagem a números, percentuais ou médias aritméticas, a avaliação formativa se preocupa com significados, processos e competências efetivamente desenvolvidas. Esse deslocamento exige a utilização de instrumentos diversificados, tais como registros descritivos, autoavaliações, portfólios, atividades reflexivas e observações sistemáticas. Ao ampliar as possibilidades de coleta e análise de informações, o professor obtém uma visão mais completa da trajetória do estudante, identificando não apenas o que ele sabe, mas como aprende, como se engaja e como evolui ao longo do tempo. Trata-se de um processo que reconhece a aprendizagem como fenômeno complexo, multifacetado e profundamente ligado às experiências, contextos e motivações individuais. 

Superar o paradigma da nota, portanto, não significa ignorar a necessidade de critérios ou parâmetros. Pelo contrário, implica construir práticas avaliativas baseadas em objetivos claros, critérios transparentes e feedbacks significativos. A Avaliação que Educa promove o uso pedagógico da informação, permitindo que o estudante compreenda o que se espera dele, por que determinado conteúdo é importante e de que maneira pode avançar. O feedback, nesse sentido, assume centralidade: mais do que comunicar resultados, ele orienta ações futuras, encoraja o aprimoramento e fortalece a confiança do estudante em sua capacidade de aprender. A avaliação torna-se, assim, um instrumento motivador, e não um elemento de tensão ou medo. 

Por fim, o movimento de superação do paradigma da nota está profundamente ligado a uma concepção de educação comprometida com a formação integral. Em uma sociedade em constante transformação, avaliar significa também promover valores como autonomia, responsabilidade, criticidade e colaboração. Uma avaliação que educa prepara o estudante para enfrentar desafios reais, desenvolver competências socioemocionais e construir sentido para sua trajetória escolar. É uma prática que reconhece a educação como processo dinâmico e contínuo, e que coloca a aprendizagem no centro das decisões pedagógicas. Ao adotar essa perspectiva, professores, escolas e sistemas educacionais contribuem para a construção de ambientes mais inclusivos, sensíveis às necessidades dos estudantes e orientados para o desenvolvimento pleno de cada indivíduo. 

 

 

Referências 

Bloom, B. S. Taxonomia dos objetivos educacionais. Porto Alegre: Globo, 1972. 

Esteban, M. T. O que sabe quem erra? Reflexões sobre a avaliação e fracasso escolar. Petrópolis: Vozes, 2009. 

Freitas, L. C. de. Avaliação: construindo o caminho para a mudança. Campinas: Autores Associados, 2008. 

Hadji, C. Avaliação desmistificada. Porto Alegre: Artmed, 2001. 

Hoffmann, J. Avaliação: mito e desafio – uma perspectiva construtivista. Porto Alegre: Mediação, 2000. 

Hoffmann, J. Avaliar para promover: as setas do caminho. Porto Alegre: Mediação, 2014. 

Luckesi, C. C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez, 2011. 

Luckesi, C. C. Avaliação qualitativa: uma prática em construção. São Paulo: Cortez, 2005. 

Perrenoud, P. Avaliação: da excelência à regulação das aprendizagens. Porto Alegre: Artmed, 1999. 

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Stiggins, R. Classroom assessment for student learning: doing it right, using it well. Portland: Assessment Training Institute, 2005. 

 

Biografia do Autor

Lívia Barbosa Pacheco Souza, Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Pedagoga (UNEB), Psicopedagoga Institucional e Clínica (Faculdade Iguaçu), Especialista em Educação em Gênero e Direitos Humanos (NEIM UFBA), em Gênero e Sexualidade na Educação (NUCUS UFBA), em Educação para as Relações Étnico-Raciais (UNIAFRO UNILAB), e em História e Cultura Indígena e Afro-Brasileira (Faculdade Iguaçu)

Juliana Santos do Carmo, Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Especialista em Psicopedagogia Institucional e Clínica e em História e Cultura Afro-Brasileira (Faculdade Iguaçu); Licenciada em Pedagogia e em Ciências Contábeis (UNEB)

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Publicado

maio 13, 2025

ISSN online

2675-9128

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Como Citar

CARMO, Juliana Santos do. Capítulo 12: Avaliação que Educa: superando o paradigma da nota . Em: ASSUNÇÃO, Bárbara Aline Ferreira; SOUZA, Lívia Barbosa Pacheco (org.). Gestão Escolar e Políticas Públicas: Caminhos para a Qualidade Educacional. Aluz Livros de Fluxo Contínuo[s.l.] : Repositório Acadêmico – Editora Acadêmica Aluz,2025. v. I. DOI: 10.51473/3w56x782. Disponível em: https://ebooks.editoraaluz.com.br/edu/catalog/book/10/chapter/104. Acesso em: 18 nov. 2025.